Título: CAIXA MAIOR PARA O RIO
Autor: Luciana Casemiro
Fonte: O Globo, 30/01/2005, Morar bem, p. 1

Um volume de crédito de R$1 bilhão, que está 58% acima do emprestado no ano passado. E que vai resultar num aumento equivalente do número de moradias financiadas. Ou seja, 30 mil unidades. Essa deve ser a participação da Caixa Econômica (CEF) no mercado imobiliário do Estado do Rio em 2005. E não se trata de previsão demasiadamente otimista: já existe uma demanda forte na Caixa, que diz ter dinheiro suficiente para atender ao mercado.

¿ Temos em análise, no banco, uma quantidade expressiva de projetos. Há mais de dez mil unidades, num período que normalmente é fraco. Haverá uma antecipação de lançamentos, normalmente concentrados no segundo semestre, para março e abril. E temos recursos ¿ diz José Domingos Vargas, superintendente da CEF no Rio.

Tudo isso é reflexo da recuperação do setor: o país deve bater o recorde em crédito habitacional este ano. Só a Caixa têm R$10 bilhões para emprestar. No caso dos bancos privados, a expectativa é de um aumento de 30% sobre 2004, o que representariam outros R$4 bilhões ¿ valor que, entretanto, poderia ser até três vezes maior, não fossem as mudanças nas regras do SFH baixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na quinta-feira passada.

A iniciativa privada levantava a tese ¿ e convenceu o CMN disso ¿ de que os mutuários não teriam renda para contrair mais de R$4 bilhões em crédito. No Rio, diz Domingos, eles têm sim:

¿ Houve aumento de renda no Rio, assim como redução do endividamento. Além disso, no caso da CEF, fizemos mudanças nos programas que vão garantir a saída dos empréstimos.

O superintendente da CEF aposta ainda na diversificação de produtos pelas construtoras.

¿ Acabará a hegemonia de lançamentos para as classes altas.

O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Márcio Fortes, não está tão otimista:

¿ Não adianta ter receita. O importante é saber quanto desses recursos irão para novas unidades. Carta de crédito (o empréstimo não vai diretamente para a construção) é desperdício.

Respondendo a Marcio Fortes, Domingos informa que a estimativa é de que 60% dos recursos sejam concedidos via carta de crédito:

¿ Estão incluídos imóveis avulsos novos e usados, além da construção individual. O Márcio fala em nome de 2% do setor. Precisamos atender a todos.

Na comparação com o resto do país, registra-se ligeira perda no que a CEF deve emprestar ao Rio este ano: participação de 10% no bolo nacional, contra 10,5% de 2004. Executivos da Caixa Econômica Federal (CEF) e representantes da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) se encontrarão semanalmente a partir de agora. O grupo ¿ que já vinha realizando reuniões mensais desde o ano passado ¿ resolveu intensificar o debate sobre os programas de financiamento da Caixa, para garantir a aplicação integral dos recursos disponíveis este ano.

Empresários querem crédito total da obra

¿ A CBIC tem contribuído muito com a Caixa. Estamos abertos a sugestões. Prova disso são os produtos que já saíram do papel a partir desta parceria, como o financiamento da produção e o pagamento de prestações menores, pelo mutuário, durante a obra ¿ ressalta José Domingos Vargas, superintendente da Caixa Econômica, no Rio.

Roberto Kauffmann, vice-presidente da CBIC e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio (Sinduscon-Rio), antecipa alguns dos temas em debate com a Caixa:

¿ Estamos pedindo mudanças no critério de credenciamento de empresas para obtenção de financiamento; atualização dos parâmetros de avaliação dos empreendimentos; e uma revisão no Programa de Apoio à Produção.

Em relação a este programa, o que os empresários querem é que deixem de ser exigidas para a obtenção do crédito a venda prévia de 30% das unidades e a contrapartida de 30% de recursos próprios do empreendedor. A proposta da CBIC é que a CEF financie o valor total da obra para o construtor.

¿ O prédio pronto vende mais rapidamente. Ainda mais se o público é das classes média baixa e média. E hoje a lei tem mecanismos que dão segurança ao banco. Além disso, a Caixa deveria exigir das empresas um estudo sério de viabilidade, o que reduz o risco de encalhe de unidades ¿ diz Kauffmann.

Reajuste anual de valor do PAR está em debate

Os empresários estão requerendo ainda que seja feito um realinhamento de preços das unidades do Programa de Arrendamento Residencial (PAR), voltado para as famílias de baixa renda. A idéia é estabelecer uma data para a revisão anual do valor, segundo índice fixado pela própria Caixa Econômica. Mas tudo, por enquanto, é projeto.