Título: Alerta no ProUni
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Fonte: O Globo, 17/01/2005, Opinião, p. 6

Por ser uma questão ideológica, contra a qual os argumentos racionais têm peso relativo, o governo federal continua decidido a instituir o cartório das cotas no ensino superior, revogando o princípio do mérito, e assim pondo em risco a qualidade da próxima geração de profissionais. E isso num mundo cada vez mais competitivo, em que o sucesso ou fracasso dos países depende, em larga medida, da capacitação do seu povo.

Nem mesmo resistências e ponderações feitas no próprio meio acadêmico são levadas em conta. Como aconteceu com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a maior das universidades federais. De nada adiantou o Conselho de Ensino e Graduação da UFRJ, por decisão quase unânime, ter rejeitado a adoção das cotas no vestibular deste ano. Posição idêntica já havia sido assumida pela faculdade de medicina da universidade.

O governo federal, no entanto, segue em frente e tentará formalizar as cotas pela Lei de Educação Superior, a da reforma universitária. Sequer a dificuldade em distribuir o total das bolsas de estudo para estudantes negros e pardos dentro do programa Universidade para Todos (ProUni) abala os militantes das cotas.

Ora, deveria fazer pensar o fato de 14% do total de 112 mil bolsas não terem sido concedidas basicamente porque negros, pardos e índios não conseguiram atingir a nota mínima de 4,5 exigida pelo programa. Ficou não apenas comprovado o risco de o sistema de cotas degradar o ensino universitário como também confirma-se a má qualidade do ensino médio, o qual deveria ser foco prioritário do governo