Título: Acusações pesadas
Autor: Emeson Renon
Fonte: O Globo, 12/11/2004, O País, p. 3

O prefeito de Macapá, João Henrique Pimentel (PT), foi indiciado pela Polícia Federal e vai responder pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, desvio de verbas públicas e fraude de licitações. João Henrique está preso desde a madrugada de terça-feira, na carceragem da PF em Macapá. Ontem, o prefeito foi ouvido durante dez horas pelo procurador da República no Amapá, Paulo Roberto Olegário de Souza, e pelo superintendente da Polícia Federal no estado, Aldair Rocha. Eles consideraram o depoimento do prefeito positivo para o futuro das investigações.

O procurador disse que João Henrique reconheceu sua voz no diálogo que manteve com o empresário Luiz Eduardo Corrêa, dono da Método Norte Engenharia e apontado como o chefe da quadrilha que fraudava licitações para desviar verbas públicas no Amapá. Souza disse que o prefeito respondeu à maioria das perguntas, dispondo-se a colaborar com as investigações.

Petistas em vigília na sede da PF

Enquanto prosseguem as investigações, os petistas do Amapá fazem vigília em frente à Superintendência da PF para defender João Henrique. Ontem, a notícia de que ele poderia ser solto levou um grande número de pessoas para a frente do prédio. Os petistas aguardavam a soltura do prefeito soltando fogos de artifício, e com faixas e cartazes com mensagens de esperança.

¿ João! Confiamos em você! ¿ gritava uma militante do PT.

Durante todo o dia eles ficaram aguardando o prefeito, que não deixou a cela da PF. À tarde foi a vez de os médicos visitarem João Henrique e o prefeito de Santana, Rosemiro Rocha Freire, que também está preso.

¿ Os dois prefeitos estão bem. Apenas passam por um exame de rotina ¿ disse o delegado Rocha.

O procurador da República preferiu não destacar os principais pontos do depoimento do prefeito. Sobre o processo de licitação, ele afirmou que João Henrique disse que não tinha como controlar.

¿ Algumas ele chegou a acompanhar ¿ disse Souza.

Investigação sobre enriquecimento

Com o bloqueio das contas do secretário de obras de Macapá, Geovanni Colleman, do presidente da Companhia das Docas de Santana, Rodolfo Juarez, de Francisco Leite e Luiz Eduardo Corrêa, sócio e dono da empresa Método Norte Engenharia, o Ministério Público Federal começa a investigar se os acusados enriqueceram ilicitamente.

¿ Luiz Eduardo Corrêa aumentou seu patrimônio em 600%. Antes, o valor dos bens patrimoniais dele era de R$ 250 mil. Hoje, estão avaliados em R$ 1,5 milhão ¿ disse o procurador da República.

Sobre os prefeitos de Macapá e Santana, o procurador disse apenas que eles estão sendo investigados. Até o momento a Polícia Federal expediu 32 mandados de prisão, 31 deles cumpridos. Dos presos, seis ainda continuam na cadeia, sendo que Geovanni Colleman, Rodolfo Juarez, Francisco Leite e Luiz Eduardo Corrêa tiveram o pedido de prisão preventiva decretado pela Justiça.

O prefeito de Santana, Rosemiro Rocha, começou a depor no início da tarde. Ele é acusado fraudar o Sistema Administrativo Financeiro (Siafi) para receber verbas públicas e de desviar R$ 4 milhões destinados à construção do Porto de Santana. Rocha, segundo a Polícia Federal, interferia diretamente no processo licitatório para favorecer a empresa Queiroz Galvão, do Pará, representada pelos empresários Ivanildo Santos Lopes e Fernando de Souza Flexa Ribeiro, que vai ocupar a vaga no Senado em substituição a Duciomar Costa, prefeito eleito de Belém.