Título: TAXA DE MORTALIDADE AINDA ESTÁ ALTA
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 02/12/2005, O País, p. 11

Para cumprir metas estabelecidas na ONU, Brasil terá de investir mais

A mortalidade infantil também apresentou queda em 2004, segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram 26,6 óbitos para cada mil nascidos vivos. Isto representa uma queda de 61,5% desde 1980 e faz com que o país esteja numa posição melhor em relação à média mundial, que é de 57 óbitos para cada mil nascidos vivos.

Mas a posição nos rankings mundial e da região da América Latina e do Caribe não é lisonjeira: o Brasil ocupa o 99º lugar no mundo e 21ª região. O Brasil está atrás de vizinhos como Suriname e Guiana Francesa.

¿ Poderíamos estar num nível melhor ¿ disse Juarez de Castro Oliveira, gerente do departamento de Dinâmica Demográfica do IBGE. ¿ A posição do Brasil no mundo e no Caribe e na América Latina mostra que os investimentos feitos na saúde pública, no acesso da população à infra-estrutura sanitária e na educação não foram suficientes. Poderíamos estar gozando uma situação mais privilegiada.

Ele observa que o Chile tem uma taxa de mortalidade de oito bebês para cada mil nascidos vivos, mencionando um dos países nas primeiras posições do ranking das Nações Unidas na região caribenha e latino-americana.

Roraima e Ceará tiveram redução igual à de São Paulo

As menores taxas estão no Sul-Sudeste, com o Rio Grande do Sul à frente (14,7 mortes para cada mil nascidos vivos), seguido por São Paulo (17 óbitos para cada mil nascidos vivos). Nos últimos lugares das unidades da Federação estão Alagoas (55,7) e Maranhão (43,6). Estes dois estados tiveram a menor queda verificada entre 1980 e 2004: cerca de 50%, contra a média nacional de 61,5%.

No mesmo período, as maiores quedas foram verificadas em São Paulo, Roraima e Ceará, todos na casa de 70%.

¿ Roraima tem uma concentração populacional em Boa Vista. E a capital se destacou mundialmente por causa de um programa local de prevenção. O Ceará também teve um programa reconhecido como eficiente.

Os dois estados são exceções em regiões que apresentam os piores indicadores. A maioria dos 99 mil óbitos registrados no ano passado ¿ 57% ¿ ocorreram nos estados nordestinos e no Acre, no Amazonas, no Pará e também em Tocantins, na região Centro-Oeste. Esta é também a realidade dos menores índices de esperança de vida, segundo o IBGE. Em 2004, nasceram 3,5 milhões de bebês; 43% deles têm esperança inferior à média nacional, de 71,7 anos, concentrando-se nas regiões Nordeste e Norte.

A pesquisa ressalta que os indicadores estão distantes das metas firmadas na Declaração da Cúpula do Milênio da Nações Unidas, fixadas em 2000 em reunião na ONU. ¿O Brasil deverá, com algum esforço adicional, atingir a meta¿, segundo o trabalho.

Um milhão de mortes a menos se taxa fosse chilena

A mortalidade, mantido este ritmo, deverá chegar a 18,2 por cada mil nascidos vivos até 2015, quando a meta está na casa de 15,6 para cada mil mortes antes do primeiro ano de idade. A meta estabelecida em 2000 foi a redução de dois terços.

¿ Para cumprir as metas, vai ser preciso o país investir mais em educação, saneamento, saúde básica ¿ disse Castro Oliveira.

A pesquisa salienta que, em todas as faixas etárias, se o Brasil tivesse uma taxa de mortalidade semelhante à do Chile, um milhão de vidas seriam poupadas a cada ano.