Título: ADVOGADO ADIA PEDIDO DE HÁBEAS-CORPUS DE MALUF
Autor: Adauri Antunes Barbosa/Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 14/09/2005, O País, p. 14

Corregedoria de Custódia da PF manda que ex-prefeito e seu filho sejam tratados como os outros presos

SÃO PAULO. Os advogados de Paulo Maluf (PP) adiaram ontem a apresentação do pedido de hábeas-corpus do ex-prefeito, ao mesmo tempo em que a Corregedoria da Custódia da Polícia Federal (PF) determinou que ele e seu filho Flávio Maluf recebam tratamento igual ao de outros presos, mesmo com diplomas de curso superior. Os Maluf tiveram que dividir a cela que ocupam com outro preso. A prisão, que tem 60 vagas, está com 87 detentos. Segundo decisão da desembargadora Raecler Baldresca, corregedora da Custódia, os Maluf não poderão ter mordomias.

Além disso, o ex-prefeito teve que prestar um depoimento inesperado numa investigação antiga sobre supostas informações privilegiadas que Flávio teria obtido na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em benefício da Eucatex, que está concordatária. Maluf foi ouvido como testemunha. Por tudo isso, teria ficado "muito abatido", segundo seus advogados.

A mulher de Flávio, Jaqueline, que é advogada, visitou os dois ontem na cadeia.

- Estamos orando por eles. Cada um tem sua cruz - disse ela, acusada em outros processos que envolvem a família.

O advogado de Maluf, José Roberto Leal, afirmou que não conseguiu entrar com o pedido de hábeas-corpus porque foi obrigado a deixar a elaboração do pedido para acompanhar o depoimento na prisão. Mas o GLOBO apurou que o adiamento se deu para evitar uma negativa. O pedido de Flávio teria sido apresentado primeiro como teste, já que o Tribunal Regional Federal (TRF) decidiu enviar todos os pedidos ao desembargador Luciano de Godoy, convocado para substituir Vesna Kolmar, que já tem outro processo de Maluf e negou os dois pedidos de hábeas-corpus apresentados por amigos dos Maluf.

A defesa conseguiu ontem autorização da Justiça Federal (primeira instância) para obter a transcrição das gravações das escutas telefônicas feitas pela PF, que resultaram na prisão preventiva de ambos, e quer estudar o material antes de pedir o hábeas-corpus. Nas gravações, os Maluf tentam convencer o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, a não fazer confissões ao Ministério Público Federal.

Manifestantes ironizam prisão do ex-prefeito

O advogado de Flávio, José Roberto Batochio, apresentou ontem o pedido de hábeas-corpus de seu cliente, mas até a noite não tinha obtido êxito. O caso será julgado a qualquer momento pelo desembargador Luciano de Godoy.

- Se o doleiro é um dos acusados, logo ele não é testemunha. No Brasil não existe a figura do "testemuréu" ou "restemunha". Eles apenas conversaram e conversar não é crime aqui no Brasil - disse Batochio.

Ontem, em frente à Superintendência da PF, um grupo identificado como "Os Famosos" pôs uma faixa com dizeres irônicos sobre a prisão do ex-prefeito. A faixa parodiava uma famosa peça publicitária de um cartão de crédito, dizendo que a prisão de Maluf "não tem preço".

Legenda da foto: FAIXA ESTENDIDA por um grupo identificado como "Os Famosos" em frente à sede da PF em São Paulo