Título: GESTÃO PROFISSIONAL
Autor:
Fonte: O Globo, 04/07/2005, Opinião, p. 6

Um levantamento inédito sobre a Justiça brasileira trouxe à tona um assunto há muito defendido pelo Conselho Federal de Administração: a profissionalização dos serviços públicos. A pesquisa, que analisou o desempenho da Justiça nos últimos 12 meses, revelou que de cada 100 processos, 59 ficaram sem julgamento. Um desembargador federal chega a receber mais de 10 mil processos. Muitos deles nem chegam a ser acompanhados.

A radiografia do Poder Judiciário levou o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, a afirmar que a lentidão da Justiça é um problema de gestão. Segundo o ministro, é preciso criar a figura do administrador judicial, porque a gestão processual deve ser profissionalizada. O jurista e ex-ministro Miguel Reale Júnior confirmou a necessidade de profissionalizar a administração do Judiciário. Lamentavelmente, no Brasil ainda impera a visão de que a administração de um setor, repartição ou órgão pode ser tocada por qualquer profissional.

Na ótica da administração, o Judiciário brasileiro precisa:

1. De qualidade nos processos organizacionais e garantia do conforto das instalações físicas, que poderão ser adquiridas por um trabalho de tecnologia da gestão organizacional e de gestão da qualidade total, antes da implantação de um sistema de informatização;

2. Tornar-se eficiente na distribuição e na tramitação de processos, o que pode ser conseguido com análise e implementação de programas de logística;

3. Melhorar o processo gerencial de pessoas para identificar e analisar as necessidades organizacionais e o desenvolvimento de políticas e programas que visem desde a identificação das necessidades de pessoal até a avaliação de desempenho, passando por mudança organizacional e programas de carreiras e capacitação;

4. Racionalizar os recursos, pelo gerenciamento financeiro e por estratégias de otimização do seu uso;

5. Ampliar a credibilidade da Justiça com práticas de administração de marketing, para analisar, planejar, implementar e controlar programas destinados a criar, desenvolver e manter trocas de benefícios entre os clientes e o Judiciário, a fim de atingir objetivos organizacionais.

O trabalho a ser realizado melhoraria a estrutura organizacional e administrativa da Justiça. O primeiro passo deve ser dado no sentido de organizar, racionalizar e profissionalizar a administração judiciária.

RUI OTÁVIO BERNARDES DE ANDRADE é presidente do Conselho Federal de Administração (CFA).