Título: ALTA ABSTENÇÃO EM REFERENDO ITALIANO
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Fonte: O Globo, 13/06/2005, O Mundo, p. 20

ROMA. Menos de um em cada cinco eleitores italianos votou ontem no primeiro dia de um referendo sobre a flexibilização da rigorosa lei do país que regula a reprodução assistida e as pesquisas científicas com embriões. Se a alta taxa de abstenção se confirmar hoje, segundo e último dia da consulta popular, a lei será mantida como está - representando uma vitória para a Igreja Católica, que liderava um boicote ao referendo com o apoio do Papa Bento XVI.

Com três horas faltando para acabar a votação de ontem, a participação dos eleitores rondava os 18%, segundo dados oficiais. Para que o resultado do referendo seja válido, é necessário que a participação supere os 50% dos quase 50 milhões de eleitores. Especialistas acreditam que para que o referendo tenha êxito seriam necessários 35% de comparecimento às urnas ontem.

Italianos procuram tratamentos no exterior

A Itália é um dos países europeus com mais restrições legais à reprodução assistida e ao uso de embriões. A legislação permite tratamentos de fertilidade somente para casais heterossexuais que vivam juntos e estejam em idade de procriação; limita a três o número de embriões a serem criados e determina que todos sejam implantados; proíbe o uso do esperma ou de óvulos doados, o aborto de fetos malformados e o uso de embriões congelados para pesquisas científicas.

Por isso, o número de casais inférteis procurando ajuda no exterior triplicou desde que a lei foi aprovada no ano passado. A Itália também é um dos países europeus com as mais baixas taxas de natalidade.

A vitória no "sim" levaria à alteração da lei, permitindo o uso de esperma e óvulos doados, a pesquisa com embriões humanos e removeria o limite dos óvulos que poderiam ser usados em cada tentativa. Os fetos defeituosos poderiam ser substituídos ou abortados.

O atual referendo resultou num dos mais acalorados debates na Itália desde que o aborto e o divórcio foram legalizados nos anos 70. Bispos católicos e outros grupos que querem a permanência da lei atual defenderam o boicote e ganharam o apoio de Bento XVI, eleito em abril, que fez assim a sua primeira interferência na política italiana.