Título: FÍSICOS OBTÊM FUSÃO NUCLEAR EM LABORATÓRIO
Autor:
Fonte: O Globo, 28/04/2005, O Mundo - Ciência e Vida, p. 33

Reação não produziu muita energia, mas técnica pode ser usada na indústria de prospecção de petróleo

LOS ANGELES. Cientistas anunciaram ontem que conseguiram induzir a fusão nuclear em laboratório. A fusão é vista como uma fonte inesgotável e não poluente de energia e há anos os cientistas tentam sem sucesso reproduzi-la de forma controlada. Outros grupos já alegaram ter conseguido, mas foram posteriormente desmentidos.

De acordo com o novo estudo, publicado na "Nature", muito pouca energia foi obtida na fusão e, por isso, a experiência ainda não pode ser apontada como uma solução para o problema energético mundial, mas teria outras aplicações. A reação nuclear, que gera uma liberação enorme de energia, é o combustível que alimenta as estrelas.

Esta última experiência se valeu de um diminuto cristal para criar um forte campo elétrico. Embora o método não tenha se mostrado muito eficaz na produção de energia, pode ter aplicações para as empresas de prospecção de petróleo e artefatos de segurança, afirmou Seth Putterman, um dos físicos que participaram da experiência na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Outros pesquisadores já haviam anunciado o feito e acabaram sendo desacreditados posteriormente. Foi o que ocorreu em 1989 com Stanley Pons, da Universidade de Utah, e Martin Fleischmann, da Universidade de Southampton, que chocaram o mundo ao anunciar que haviam conseguido induzir a reação em temperatura ambiente, no que ficou conhecido como fusão a frio. O trabalho foi desacreditado depois que diversos cientistas tentaram reproduzi-lo sem sucesso.

Especialistas em fusão, entretanto, afirmaram que a nova experiência é muito mais factível, uma vez que, diferentemente do trabalho de 1989, não viola leis básicas da física.

- Não há controvérsia porque eles estão usando um método testado e verdadeiro - afirmou David Ruzic, professor de engenharia nuclear da Universidade de Illinois. - Não há mistério em termos de física.

Os cientistas usaram um cristal capaz de gerar um forte campo elétrico numa câmera com pressão inferior à atmosférica previamente preenchida com gás deutério, uma forma de hidrogênio capaz de fundir-se. Os pesquisadores ativaram então o cristal aquecendo-o. O campo elétrico resultante provocou o choque entre os átomos de deutério, produzindo a fusão.

Energia gerada não lança poluentes na atmosfera

Ao fim da reação, foram constatadas as presenças de isótopos de gás hélio e de nêutrons, características da fusão. Não houve, entretanto, uma produção significativa de energia, o que seria um dos maiores marcos da física nuclear. A energia gerada pela fusão é apontada como um dos mais promissores substitutos dos combustíveis fósseis cuja produção, estima-se, começará a declinar ao longo dos próximos 50 anos. É ainda considerada limpa porque não lança poluentes no ar nem deixa os resíduos radioativos produzidos pela energia nuclear de fissão usada atualmente.

Putterman afirmou que suas próximas experiências, entretanto, serão voltadas para aplicações práticas da técnica desenvolvida.