Título: CHACINA: PMS SÃO ACUSADOS DE MAIS 25 CRIMES
Autor: Ana Claúdia Costa, Célia Costa e Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 15/04/2005, Rio, p. 19

Entre os delitos atribuídos a grupo já preso estão seqüestros, homicídios e extorsões, segundo chefe de Polícia Civil

O chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, disse ontem, em entrevista ao ¿RJ-TV¿, da Rede Globo, que os policiais presos por suspeita de participação na chacina de 29 pessoas na Baixada Fluminense estão sendo apontados como responsáveis por pelo menos 25 outros crimes ainda não esclarecidos, entre eles seqüestros e homicídios. Um dos casos é do PM Carlos Jorge Carvalho, reconhecido por testemunhas como o assassino de seis jovens em Belford Roxo, em 7 de setembro de 2001, como O GLOBO noticiou terça-feira. Por esse crime, ele irá a júri este ano.

Os policiais presos sob suspeita da chacina de 31 de março estão sendo acusados ainda de extorsões contra caminhoneiros. Levantamento da Polícia Civil mostra também que parte dos 11 PMs presos aparece em 15 autos de resistência (registro da morte de alguém que teria reagido a uma ordem de prisão).

¿ Nós já temos denúncias de seqüestros feitos por eles, de outros homicídios de que eles participaram. Sem dúvida, eles vão responder também por esses crimes ¿ disse Lins ao ¿RJ-TV¿.

Uma das supostas vítimas dos PMs é o filho de uma mulher que não quis se identificar. Em junho de 2003, ele saiu de casa com um amigo para ir a uma festa junina em Queimados e ambos desapareceram. Testemunhas teriam contado que os dois foram levados por PMs. Um dos envolvidos foi reconhecido como sendo o soldado Valter Mário Tenório Mariotini Valim. A mãe do rapaz diz que denunciou o caso à Ouvidoria da PM e à Corregedoria, enviando ainda uma carta à governadora Rosinha Garotinho, mas nada conseguiu.

Polícia técnica enfrenta dificuldades com aparelho

A elaboração de provas técnicas para o inquérito da chacina da Baixada está esbarrando em problemas estruturais da polícia. Com armas de 80 PMs para serem periciadas, o Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) tem dois microcomparadores de balística ¿ espécie de microscópio que compara marcas de projéteis, cartuchos e armas ¿ sendo que só um deles está funcionando com 100% de sua capacidade. O diretor do ICCE, Liu Tsun Yaei, que é engenheiro eletrônico, adaptou uma fonte de luz (a peça defeituosa) no equipamento e aguarda a chegada da peça original.

Para agilizar os trabalhos, a Polícia Civil pediu emprestado o microcomparador do Centro de Criminalística da PM. Mas a PM recusou-se a transportá-lo até o ICCE, alegando ser um equipamento muito sensível. A Polícia Militar pôs o aparelho à disposição no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap). No entanto, o diretor do Departamento de Polícia Técnica e Científica, Roger Ancillotti, disse que no momento não será possível usá-lo:

¿ Temos quatro peritos por dia trabalhando no caso e eles precisam atuar juntos, discutir tudo que se faz. Além disso, seria arriscado transportar provas de um crime diariamente.

Mulher diz que carro foi roubado em 2002

Ontem também, uma mulher procurou a polícia dizendo ser mãe da dona do Gol prata escuro encontrado na casa em Queimados onde, segundo a polícia, os PMs se reuniam e praticavam extorsões. Ela foi à Delegacia de Homicídios da Baixada e contou que o carro foi roubado por dois homens em dezembro de 2002. Ao apreender o carro na noite de segunda-feira, policiais afirmaram que o automóvel, com numeração de chassi, motor e vidros adulterada, havia sido roubado em Nova Iguaçu em dezembro de 2002. O automóvel passará por perícia.

À tarde, integrantes do Fórum Permanente de Direitos Humanos ¿ Grande Rio estiveram na delegacia para cobrar dos delegados agilidade nas investigações. Segundo o coordenador da ONG, Alberto Carlos da Cruz Teodoro, os integrantes do fórum foram também tentar levantar a auto-estima dos bons policiais. Alberto disse ainda que seis famílias de vítimas já procuraram a ONG com a intenção de processar o estado e pedir indenização.