Título: ELETROPAULO CORTA LUZ DE 85 PONTOS DA PREFEITURA DE SP POR INADIMPLÊNCIA
Autor: Flavio Freire
Fonte: O Globo, 31/03/2005, O País, p. 4

Empresa se diz pressionada por acionistas; apagão atingiu creches e posto de saúde

SÃO PAULO. Sem pagar desde 1996 as contas de luz, a Prefeitura de São Paulo ficou com 85 unidades sem energia elétrica desde segunda-feira. Com uma dívida de R$606 milhões com a AES Eletropaulo, o município paralisou, total ou parcialmente, serviços de creches, escola, unidade básica de saúde, centro cultural, biblioteca, clubes e subprefeituras atingidas pelo corte de luz. Por decisão da 12ª Vara da Fazenda Pública, a empresa teve de religar o fornecimento de energia ¿ que começou a ser restabelecido no início da tarde de ontem ¿ mas poderá recorrer caso não feche um acordo com a prefeitura numa reunião hoje para discutir formas de pagamento da dívida. Do total da dívida, R$143 milhões são juros e correção.

Ao longo de todo o dia, funcionários do posto de saúde da Moóca, Zona Leste, tiveram de usar lanternas para atender pacientes. As consultas foram remarcadas e alguns doentes, transferidos. No Centro Cultural São Paulo, na região central, por onde circulam cerca de três mil pessoas diariamente, não houve expediente. Alunos das creches de bairros da periferia foram dispensados no meio da tarde.

José Serra: ¿Se a energia não voltar é crime¿

O corte de energia em hospitais, creches ou escolas é vetado por resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A AES Eletropaulo alegou que, em seu cadastro, tais estabelecimentos constavam como unidades administrativas ou não havia especificações. Uma das creches atingidas pela falta de luz, segundo a Eletropaulo, constava como sendo um ginásio de esportes. O prefeito José Serra (PSDB) considerou crime a decisão da AES Eletropaulo.

¿ Se a energia não voltar, é crime, e eles podem ser punidos até com prisão ¿ disse Serra ontem cedo, antes da decisão da Eletropaulo de religar a luz. A sede da prefeitura não foi atingida pelos cortes.

¿ Isso me parece uma questão política. Pagamos as contas em janeiro e fevereiro e tivemos o serviço interrompido. Por que isso não aconteceu na gestão de Marta Suplicy? ¿ indagou o secretário municipal de Finanças, Mauro Ricardo da Costa.

A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) rebateu os ataques em nota oficial: ¿É um desrespeito com a população e um absurdo tentar jogar a responsabilidade sobre quem não tem culpa¿.

A prefeitura tenta receber os repasses referentes às arrecadações de janeiro e fevereiro ¿ cerca de R$25 milhões cobrados nas contas de luz. A AES Eletropaulo bloqueou esses repasses para pressionar a prefeitura a pagar o que deve.

¿A atual administração não demonstra boa vontade¿

No ano passado a dívida do município com a Eletropaulo foi renegociada para pagamento em 12 anos, com parcelas vencidas em agosto. Segundo a empresa, Marta vinha honrando as prestações, de R$93 milhões, mas a gestão de Serra ¿não estaria disposta a negociar¿.

O vice-presidente de Operações da Eletropaulo, Roberto Mário Di Nardo, negou que o corte tenha motivos políticos. As contas referentes a janeiro e fevereiro, que somam R$21,4 milhões, foram pagas na terça-feira.

¿ A atual administração não demonstra boa vontade para pagar ¿ disse Di Nardo, que admitiu que a empresa foi pressionada pelos acionistas para desligar a energia nas unidades da prefeitura. O BNDES detém 49% das ações da empresa, mas Di Nardo não citou o nome do banco. ¿ Todo acionista exige para pregarmos uma boa administração, principalmente reduzindo a inadimplência ¿ disse.

O BNDES informou ontem que não faz parte da gestão da Eletropaulo ¿ embora seja sócio junto com a AES da concessionária Brasiliana, holding que controla a empresa ¿ e que não tem influência na cobrança de contas dos clientes.