Título: CALOTE COM CHEQUE SURPREENDE E CAI EM JANEIRO
Autor: Cleide Carvalho e Sabrina Valle
Fonte: O Globo, 03/03/2005, Economia, p. 29

Serasa diz que é a 1ª vez em 9 anos que total de documentos sem fundos diminui no mês. Já FGV vê otimismo recuar

SÃO PAULO e RIO. Pela primeira vez nos últimos nove anos, o volume de cheques sem fundos caiu em janeiro. Levantamento da Serasa, consultoria de análise de crédito, mostra que no primeiro mês do ano foram registrados 15,3 cheques devolvidos por mil compensados. A queda é de 3,1% em relação a dezembro e de 1,9% na comparação com janeiro de 2004. Em todo o país foram compensados 168 milhões de cheques, e os devolvidos por insuficiência de fundos somaram 2,57 milhões.

Esta é a terceira queda consecutiva do indicador, que bateu recorde em março de 2003, com 17,6 cheques devolvidos a cada mil compensados.

Estabilidade, emprego e renda explicam resultado

Desde que atingiu o pico, a queda acumulada pelo índice é de 13,2%. Nos últimos 12 meses, a queda é de 0,15%, com 33,16 milhões de cheques devolvidos no período.

- Janeiro foi atípico e quebrou o padrão - diz André Chagas, economista da Serasa.

Segundo Chagas, a curva do indicador indica queda da inadimplência, apesar de o volume de crédito disponível ao consumidor ter aumentado. O calote costuma crescer mais quando o crédito aumenta,

- O bom desempenho da economia e o longo período de estabilidade permitem que as famílias planejem o orçamento. Estamos no terceiro mês de queda de inadimplência e será surpresa se ela continuar a cair.

Chagas lembra que o aumento do emprego, principalmente no segundo semestre de 2004, elevou a renda disponível. Com dinheiro, as famílias conseguem pagar os compromissos assumidos no Natal para este início de ano, muitos com cheques pré-datados.

Mas nos meses de fevereiro e março, além de pagar as compras natalinas, o consumidor tem gastos de material escolar adquiridos no início do ano. Por isso, a inadimplência com cheque pode voltar a crescer.

Embora os números da Serasa surpreendam positivamente, a expectativa dos consumidores brasileiros caiu, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mede esse indicador mensalmente. A expectativa vinha crescendo desde abril de 2003, mas mostrou acomodação em fevereiro, após alcançar seu nível mais alto em janeiro. No conjunto, os resultados voltaram ao mesmo patamar de dezembro, o segundo melhor desde o início da medição, em 2002.

Para economista, próximos meses indicam cautela

Pela sondagem, a situação econômica do país foi considerada boa por 12,5% dos entrevistados e ruim por 37,3%. Para o pessimismo, pesou mais o mercado de trabalho. O percentual dos entrevistados que acreditam ser mais difícil encontrar emprego nos próximos seis meses subiu de 45,4% em janeiro para 47,3% em fevereiro.

O economista da FGV Aloísio Campelo diz que há mais duas razões para esse resultado: a acomodação dos indicadores de crescimento do país e a questão sazonal, já que nesta época há gastos como IPTU e matrícula escolar. Para o economista Fernando Holanda, da FGV, a pesquisa mostra cautela em relação aos próximos meses.