Título: Mais quatro crianças indígenas internadas
Autor: Paulo Yafusso
Fonte: O Globo, 01/03/2005, O País, p. 11

Mais quatro crianças das aldeias indígenas da região sul de Mato Grosso do Sul foram internadas no Centro de Reabilitação Nutricional (Centrinho) de Dourados, a 220 quilômetros de Campo Grande (MS). Com isso, já são 35 pacientes. Segundo o médico Zelik Trajber, todos estão com o quadro clínico estabilizado.

Os quatro novos pacientes vieram das aldeias de Amambai, Antonio João e Bororó, que faz parte da reserva de Dourados. A força-tarefa formada por médicos, nutricionistas e agentes de saúde criada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) na sexta-feira, vem fazendo o acompanhamento 24 horas das crianças internadas. Outras 250 com problemas de desnutrição estão sendo assistidas em suas próprias casas todos os dias.

Somente neste ano seis crianças indígenas morreram em Mato Grosso do Sul. A última vítima foi Robson Garcia Fernandes, de 2 anos. Ele morreu no sábado, justamente no dia em que a força-tarefa da Funasa estava na reserva de Dourados fazendo avaliação e pesando as crianças.

Mas, segundo a Funasa, Robson, que morava com a mãe e não pertencia à aldeia, morreu provavelmente de insuficiência renal. As outras cinco crianças tiveram a morte confirmada por desnutrição, conforme laudo dos médicos.

Segundo o vice-presidente do Conselho de Saúde Indígena (Condisi), Fernando de Souza, apenas ações emergenciais estão sendo feitas para se evitar que as crianças morram de desnutrição.

¿ Quanto às questões estruturais, nada foi feito. E amanhã, quando as equipes da Funasa forem embora, como fica? ¿ indaga ele, que é índio da reserva de Dourados.

Vítimas tinham outros problemas de saúde

Santos lembra que muitas das crianças que morreram de desnutrição tinham outros problemas de saúde, que acabaram se agravando devido à debilidade do organismo por falta de alimentação.

O vice-presidente do Condisi afirma que as equipes que trabalham com a saúde indígena não dispõem de estrutura para dar atenção adequada.

¿ As gestantes, por exemplo, deveriam ter atendimento desde o pré-natal, mas não temos condições de fazer isso. Só temos um carro para todas as equipes de médicos, nutricionistas e agentes de saúde ¿ afirmou.

Além do reforço de médicos e nutricionistas, a Funasa também enviou mais carros para atender as equipes de saúde indígena.

A partir deste mês, o governo federal vai distribuir 1.200 cestas básicas de alimentos para as aldeias do Estado, por um período de seis meses.