Título: Acre decreta emergência por causa de imigrantes
Autor: Arruda, Itaan
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2013, Nacional, p. A9

O governador do Acre, Tião Viana (PT), assinou decreto de emergência social para tentar amenizar os problemas relacionados aos imigrantes haitianos. Em entrevista ontem ele criticou a postura do Ministério das Relações Exteriores e da Justiça, "Temos tido um apoio muito tímido do Ministério da Justiça e uma insensibilidade marcante por parte do Ministério das Relações Exteriores", disse o governador. "Por várias vezes eu já tratei dessa questão com o ministro Antonio Patriota, coloquei a gravidade da situação", afirmou.

Desde dezembro de 2010, quando chegou à fronteira o primeiro grupo de haitianos em fuga após a série de terremotos que assolou o país, 4,3 mil imigrantes já atravessaram a fronteira do Acre com o Peru, passando pelo Equador. Hoje, estão nas cidades de Brasileia e Epitaciolândia mais de 1,2 mil haitianos.

Isso teve um custo contabilizado em mais de R$ 3 milhões ao governo do Acre. É mais de seis vezes o gasto federal com ajudas pontuais. Até hoje, a União arcou com R$ 650 mil, pelas contas da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos.

Hoje, os 1,2 mil haitianos estão acomodados em um local que comporta 200 pessoas. Custos com energia, aluguel e três refeições diárias são bancados pelo governo acriano, com ajuda pontual do Ministério do Desenvolvimento Social.

Com as condições precárias de higiene, a ociosidade e a falta de perspectiva, qualquer problemas mais grave pode piorar facilmente, afirma Viana. "Se nós tivermos um momento de violência ali, que poder de polícia o governo do Estado tem para tratar essa questão?", questionou.

Desde o fim de 2012, o perfil dos imigrantes mudou. Agora, além de haitianos, há etíopes, senegaleses, dominicanos, nigerianos e até indianos. O governo suspeita que a região passou a ser rota do tráfico internacional de pessoas.

"É como se estivesse formada uma rota internacional migratória que se associa à crise social porque vive o povo do Haiti", disse Viana. "E isso traz uma incapacidade de resolver sozinho essa questão." O secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, afirmou que a postura do governo do Acre de tratar "de forma humanizada" os haitianos "acabou servindo de chamariz para outros imigrantes".