Título: Crescimento da telefonia celular reduz espera do Brasil por novas tecnologias
Autor: Scheller, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2013, Negócios, p. B22

Telecomunicações. Consumidor brasileiro esperou 12 anos para ter contato com o celular de segunda geração, mas apenas um para entrar na quarta geração: segundo especialistas, com o mercado em alta, tendência é essa defasagem ser eliminada no futuro

Foi-se o tempo em que o con­sumidor brasileiro ficava ma­ravilhado com os avanços tec­nológicos disponíveis no exte­rior. Finalmente, afirmam es­pecialistas em tecnologia, o Brasil está recebendo as mais recentes novidades em acessi­bilidade móvel simultanea­mente com os mercados madu­ros. Segundo Jesper Rhode, vice-presidente de inovação da Ericsson para a América Lati­na, a multinacional sueca já testa, em parceria com universidades locais, as tecnologias "5G" que está desenvolvendo.

O que virou o jogo e abreviou o tempo de espera do brasileiro pelas novas tecnologias foi o es­pantoso crescimento do merca­do local nos últimos anos, espe­cialmente quando o assunto é telefonia celular. "Sempre se ten­tou estabelecer um teto para o mercado de telefonia celular no Brasil, mas todas as previsões se mostraram conservadoras. E a tendência é que o mercado conti­nue a surpreender", diz Rhode.

Expansão acelerada. O Brasil fechou o ano passado com 261,8 milhões de linhas de telefonia móvel, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A multinacional americana Cisco afirma que 157 milhões de brasileiros têm telefone celular. Mesmo assim, nos próximos cin­co anos, o mercado seguirá cres­cendo 2,2% ao ano.

Esses aparelhos estarão nas mãos de 175 milhões de pessoas até 2017.A exigência por conecti­vidade cresce junto com o aces­so a aparelhos mais sofisticados, como smartphones e tablets. A venda de tablets, aliás, deve cres­cer 90% no País só este ano, se­gundo a consultoria IDC.

Para quem entende de tecnolo­gia, a popularização desses apa­relhos deverá obrigar as provedo­ras de serviço de internet móvel a investir mais na rede para não perder clientes. "O que vai acon­tecer, em breve, é que cada pes­soa vai ter não apenas um, mas até dez aparelhos conectados à web. A internet estará presente no telefone, no carro, na televi­são e até na geladeira. E será ne­cessário adaptar o serviço atual a essa realidade", diz Rhode.

Além disso, a banda larga mó­vel cumprirá, a exemplo do que ocorreu com os telefones celula­res, uma função social no Brasil. Segundo Anderson de Almeida André, diretor de operações em telecomunicações da Cisco Bra­sil, como ocorriano caso da telefonia, a banda larga fixa cobre só cerca de 300 cidades entre os mais de 5,5 mil municípios brasileiros. "O real acesso da maioria dapopulação àbandalargavai se dar pela rede móvel, pelo celu­lar", diz o especialista.

Quando se analisa a evolução da telefonia celular nos últimos dez anos, fica claro que o Brasil está subindo nas prioridades das grandes multinacionais. A tecnologia europeia GSM, que introdu­ziu atroca de operadora só com a mudança de chipe o roaming au­tomático, chegou ao Brasil com 12 anos de atraso em relação a seu lançamento internacional, em 1990.

Essa diferença começou a ser reduzida com a internet 3G, que aportou no País quatro anos após o lançamento mundial. No caso do 4G, aponta Rhode, da Ericsson, a espera foi de apenas um ano. A tendência, a partir de agora, équeas novas tecnologias de acesso cheguem de forma si­multânea.

E o grande desafio dos próxi­mos anos será expandir o servi­ço de dados. Agora que já fala à vontade no celular, o brasileiro quer navegar na internet com qualidade. Estatísticas da Cisco apontam que o tráfego de dados em aparelhos móveis no País cresceu 67% somente em 2012.

Para os próximos cinco anos, a expectativa é que o volume de dados transmitidos na rede mó­vel brasileira continue a se ex­pandir 65% ao ano, um ritmo su­perior ao dos Estados Unidos e da Europa, mercados onde o acesso à internet móvel é bem mais disseminado.

Gastos. À medida que o brasilei­ro entra em contato com conteú­dos disponíveis naweb não só pelo smartphone, mas também pe­lo "velho" aparelho de TV, a dis­posição do consumidor de classe média em gastar com tecnologia também cresce. Para André, da Cisco, o brasileiro vê na tecnolo­gia uma forma de diminuir a diferença entre seu padrão de consu­mo e o modo de viver das cama­das mais ricas. "As pessoas desco­brem que, investindo em tecno­logia, podem ter acesso a servi­ços e melhorar sua qualidade de vida", diz o especialista. "Isso acaba criando um círculo virtuo­so para o setor."

O grande teste das operado­ras, segundo o executivo da Cis­co, virá na Copa de 2014. "Esta­mos nos aproximando de um ce­nário em que a qualidade do ví­deo é vital", afirma. "Não adian­ta o serviço funcionar a maior parte do tempo. Ele não pode fa­lhar nunca, especialmente na ho­ra em que a pessoa quer ver o gol da seleção brasileira."