Título: Cidade foi 1ª a receber Cartão Alimentação
Autor: Arruda, Roldão ; Paraguassu, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2013, Nacional, p. A4

No dia 3 de fevereiro de 2003, o então ministro do Combate à Fome, José Graziano, desceu de um helicóptero em Guaribas e, acompanhado de outros quatro colegas de governo, discursou: “Quero voltar aqui em quatro ano se dizer que vocês não precisam mais do cartão porque a fome acabou”.O prazo se esgotou, Graziano hoje é o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura – eleito em grande parte pelo seu trabalho no ministério– mas a miséria ainda é a marca principal de Guaribas. Então a mais miserável das cidades do Piauí, o Estado mais pobre do País, Guaribas foi escolhida, junto com a mais esquecida ainda Acauã (PI) para ter os primeiros 50 beneficiários do programa Cartão Alimentação, depois substituído pelo Bolsa Família. Sem água, sem luz, sem calçamento nem esgoto, a cidade era o retrato do Brasil miserável que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria combater.

Ele mesmo queria ir até lá lançar o programa mas foi convencido por sua segurança de que a visita era impraticável. Os cinco ministros que lá estiveram fizeram discursos e nunca mais voltaram. Em seus oito anos no Planalto, Lula nunca foi à cidade onde os moradores o chamam de “pai” e de “santo”. Já nos primeiros anos o problema da água foi resolvido. O número de beneficiários do Bolsa Família aumentou, até chegar aos 87% dos moradores atuais. Em 2006, quando o Estado visitou Guaribas, a miséria já não era tão absoluta, mas a dependência dos programas sociais já era total. O fornecimento de água ainda se concentrava basicamente na sede – os demais 18 povoados ainda penavam com os poços artesanais. Hoje, apenas Cajueiro, a mais de 30 quilômetros da sede, ainda passa sede. Nos últimos seis anos, a cidade ganhou calçamento, banco e escola de ensino médio. Ainda muito pobre, ela se assemelha hoje a centenas de outras cidades que vivem de programas sociais. As promessas que ali foram feitas em 2003, no entanto, ficaram pela metade./ L.P