Título: Cientistas reforçam promessas de terapias baseadas em células-tronco
Autor: Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2012, Vida, p. A13

Diferentemente de políticos, cientistas costumam ser muito cautelosos com suas promessas de pesquisa. Especialmente em um campo visado e polêmico como o das células-tronco, em que as expectativas da população e a pressão por resultados são altíssimas. Porém, com um orçamento de US$ 3 bilhões e alguns dos mais avançados laboratórios de biologia e terapia celular a sua disposição, o presidente do Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia (Girm, em inglês), Alan Trounson, não hesita em dizer: "Vamos fazer coisas incríveis com as células-tronco".

Entre as "promessas", nada menos que a cura da aids, da cegueira e de várias doenças genéticas, autoimunes e degenerativas, entre outras façanhas. "É uma questão de tempo", disse Trounson, em entrevista exclusiva ao Estado, durante uma visita a São Paulo para conversar com cientistas brasileiros e participar do Congresso Brasileiro de Células-Tronco e Terapia Celular, que terminou ontem. aVai levar mais alguns anos, mas a cavalaria está chegando."

Trounson lembra que a primeira linhagem de células-tronco embrionárias humanas - marco científico que impulsionou as pesquisas na área - foi criada em 1998, menos de 15 anos atrás. Período que parece uma eternidade para aqueles que esperam desesperadamente por uma cura, mas relativamente curto diante dos inúmeros desafios científicos, tecnológicos, éticos e regulatórios que precisam ser superados para transformar o potencial terapêutico das células-tronco em terapias de fato, comprovadamente eficientes e seguras para uso em seres humanos.

Atualmente, há cerca de 2 mil ensaios clínicos com células-tronco em andamento no mundo, envolvendo uma grande variedade de tipos celulares, traumas e doenças. E mais alguns milhares de ensaios pré-clínicos com animais - etapa obrigatória para a iniciação de pesquisas com seres humanos.

Assim como ocorre na pesquisa de novas drogas, é certo que a grande maioria desses projetos não terá sucesso, no sentido de colocar uma nova terapia no mercado. Mas isso faz parte do processo. Basta ter paciência, diz Trounson, que os resultados práticos das células-tronco virão. "Os testes clínicos "de verdade" estão só começando. O que está por vir será fantástico."

Parcerias. Pesquisadores brasileiros compartilharam do otimismo de Trounson - apesar de não compartilharem do seu "poder de fogo" tecnológico e financeiro. "Em ciência nunca dá para garantir nada, mas as luzes no fim do túnel são muito promissoras", disse Lygia Pereira, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da Universidade de São Paulo, que presidiu o congresso. "O potencial dessas células é real."

Trounson veio ao Brasil em busca de parcerias. O Cirm só pode financiar pesquisas dentro da Califórnia; porém, cientistas de outros países podem submeter projetos para serem realizados em colaboração com instituições californianas financiadas por ele. Com a condição de que cada um pague pela sua parte.

O instituto assinou um acordo de cooperação com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em março. "O Brasil tem cientistas muito bons", disse Trounson. "Só espero que a colaboração não esbarre em falta de dinheiro."

Iniciativa foi de Schwarzenegger

O Cirm tem uma história peculiar. O instituto nasceu de um plebiscito lançado em 2004 pelo então governador Arnold Schwarzenegger, em que os eleitores da Califórnia aprovaram uma proposta para investir US$ 3 bilhões em pesquisas com células-tronco (incluindo células-tronco de embriões humanos) ao longo de dez anos.

Mais de US$ 1,6 bilhão já foi investido. Além dos resultados científicos, isso gerou 5 mil novos empregos, atraiu mais de 130 laboratórios e trouxe mais de US$ 200 milhões em impostos para o Estado, segundo o Cirm.