Título: Acidente da Gol: jornalista do Legacy terá de se retratar
Autor: Fadel, Evandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2011, Metrópole, p. C4

Com o voto favorável de dois dos três desembargadores da 9.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, o jornalista americano Joe Sharkey deve ser condenado a retratação pública por declarações consideradas ofensivas ao Brasil que publicou em seu blog. Eles também votaram pelo pagamento de indenização de R$ 50 mil, com valores corrigidos desde 2008, quando foi postada a primeira publicação considerada ofensiva. Sharkey estava no jato Legacy que se chocou contra um Boeing da Gol em 2006. As 154 pessoas a bordo do Boeing morreram. As sete que estavam no Legacy nada sofreram.

A sentença ainda não foi homologada pelo TJ porque o terceiro julgador, desembargador José Augusto Aniceto, pediu vista do processo. "Apesar da interrupção do julgamento, a decisão já está dada porque temos dois votos favoráveis", disse o advogado da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907, Dante D'Aquino. Sharkey pode recorrer.

O processo foi movido por Rosane Gutjahr, que perdeu o marido no acidente. "Não tínhamos nem recuperado os corpos das pessoas e ele já estava dizendo que no Brasil só tem tupiniquim, que o Brasil é o mais idiota dos idiotas, que aqui só tem samba, carnaval e prostitutas", afirmou.

Rosane recorreu à Justiça pedindo reparação. Em primeiro grau, a Justiça negou o pedido, alegando que não era parte legítima. De acordo com a acusação, Sharkey teria atribuído a culpa do acidente ao Brasil, chamado por ele de "terra maluca". Para Rosane, trata-se de "racismo e ofensa" ao povo brasileiro. Ela disse que pretende doar a indenização ao Hospital de Clínicas de Curitiba.

Sharkey não indicou defensor e foi julgado à revelia. Em seu blog, o jornalista negou anteontem que tenha ofendido os brasileiros. Alegou que o processo é fruto de "xenofobia e antiamericanismo". Segundo ele, o comentário de que o Brasil é culpado pelo acidente foi feito a partir da análise da empresa americana National Transportation Safety Board, segundo a qual "falhas operacionais e sistêmicas do controle aéreo brasileiro foram a provável causa do acidente".