Título: Fantasma do Lehman ronda Wall Street
Autor: Xavier, Luciana Antonello
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2011, Economia, p. B12

Três anos depois, o que se pergunta é se haverá mais recessão e nova crise bancária

Quem olha o mundo hoje, três anos após o colapso do banco Lehman Brothers, tem a impressão de que, se algo mudou, foi para pior. O mercado imobiliário e o de trabalho seguem fracos, enquanto o mercado financeiro numa volatilidade que lembra os dias nervosos do fim de 2008. O que se pergunta agora é se os Estados Unidos e a Europa terão mais recessão, e se haverá nova crise bancária.

"As possibilidades de uma recessão nos Estados Unidos são de 30%. Se a Europa e os EUA caíssem de novo na recessão, o que não é nossa projeção, mas, enfim, a probabilidade está desconfortavelmente alta e, se houver, então podemos esperar uma recessão global", afirma a diretora do Crédit Suisse Dana Saporta.

Do Lehman Brothers para cá, a economia americana viu sua dívida pública subir mais - hoje está acima de 90% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) em comparação com 85% em 2008; perdeu seu rating AAA e passou a ser um país AA+, com perspectiva negativa; e ganhou mais 7 milhões de desempregados, totalizando cerca de 14 milhões.

Depois de um breve sopro de retomada no ano passado, o mundo voltou a desacelerar este ano. O mercado está revisando para baixo suas projeções para 2012 e algumas economias poderão ter um pouso forçado. Os EUA devem crescer 1% no segundo trimestre, em taxa anual. A estimativa anterior era de 1,3%.

Já o PIB dos 17 países da zona do euro cresceu 0,2% no segundo trimestre ante o trimestre anterior, a expansão mais fraca desde o fim da recessão no mesmo período de 2009, enquanto na comparação com o mesmo período do ano passado o crescimento foi de 1,6%.

Alguns países na zona do euro já estão com contração de suas economias, como Portugal, cujo PIB caiu 0,9% no segundo trimestre ante o mesmo período de 2010, e a Grécia, que teve contração de 7,3% no segundo trimestre ante o mesmo período de 2010. Os dois países estão entre as economias mais problemáticas da zona do euro por causa de suas dívidas e a Grécia aguarda mais um socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI) ainda este mês.

Queda. O Lehman Brothers, que era o quarto maior banco de investimentos nos EUA, entrou com pedido de falência em 15 de setembro de 2008, uma segunda-feira. Foi o gatilho que detonou uma crise global, de grandes proporções. Os problemas na economia americana, no entanto, começaram a aparecer em 2007, com o estouro da bolha imobiliária que expôs hipotecas de segunda linha, chamadas de subprime.

O sistema financeiro americano, no entanto, escondia na manga outros ativos tóxicos e uma capacidade ilimitada de iludir o investidor criando ativos exóticos, fazendo manobras em seus balanços, conseguindo rating AAA para ativos de segunda linha. Tudo isso veio à tona após o Lehman e até hoje a faxina nessas hipotecas e ativos não foi feita completamente, o que tem atrapalhado a vida de alguns grandes bancos atualmente, como o Bank of America.

O colapso do Lehman Brothers serviu para detonar uma crise financeira que resultou em 14 milhões de desempregados nos Estados Unidos, muitas famílias sem casa, pelo menos 7 milhões de imóveis financiados com pagamento atrasado ou em processo de execução e na falência de quase 400 bancos. Só não resultou na punição de quem começou a bagunça toda. Até onde se tem notícia, nenhum dos executivos envolvidos com as manobras contábeis e hipotecas subprime que levaram à crise foi para a cadeia.