Título: Cimenteira Cimpor rejeita oferta de compra feita pela CSN
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2010, Economia, p. B12

Conselho de administração do grupo português diz que proposta é "oportunista e irrelevante"; decisão pode abrir caminho para um acordo com a Camargo Corrêa

O conselho de administração da fabricante de cimento portuguesa Cimpor rejeitou ontem, por unanimidade, a oferta de compra feita pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no último dia 18. Após reunião, o conselho informou que a oferta "subavalia significativamente a empresa". Segundo comunicado enviado ao mercado, os conselheiros consideram a oferta "oportunista, irrelevante e perturbadora da atividade da empresa". A CSN ofereceu ? 3,68 bilhões pela Cimpor, sendo ? 5,75 por ação.

O conselho da empresa portuguesa recomendou que seus acionistas não vendam suas ações porque a CSN não oferece um prêmio pelos papéis. "A Cimpor tem uma comprovada história de sucesso empresarial e está fortemente empenhada em prosseguir a sua estratégia de criação de valor para os acionistas", informou. Segundo o comunicado, o sucesso da oferta da CSN comprometeria o desenvolvimento da Cimpor.

A fabricante de cimentou informou ainda que a documentação apresentada pela CSN na oferta hostil é "incompleta e imprecisa, omite informação legalmente exigida, não cumpre os requisitos legais quanto à qualidade da informação, é obscura em todos os aspectos financeiros e, assim, impossibilita o conselho de administração de adotar uma posição esclarecedora sobre alguns dos termos da oferta". Procurada, a CSN não comentou a rejeição da Cimpor à sua oferta.

A decisão do conselho pode abrir espaço para a oferta de uma outra empresa brasileira. A Camargo Corrêa está interessada em comprar mais de um terço da cimenteira portuguesa, mas não deve optar por uma compra tradicional, que a levaria a fazer uma oferta pública de aquisição (OPA) para os acionistas minoritários, segundo uma fonte próxima às negociações. A empresa brasileira deve propor uma fusão, o que dispensaria a necessidade de uma OPA. Para realizar a fusão, é necessária a aprovação de uma maioria de dois terços dos acionistas da empresas envolvidas. Procurada pela reportagem, a Camargo não se pronunciou sobre o assunto.

Quando a CSN fez sua oferta, em 18 de dezembro, a Camargo Corrêa confirmou seu interesse na Cimpor. Na ocasião, a empresa declarou ter conversado com vários acionistas da Cimpor para "demonstrar seu interesse em participar com os sócios portugueses da empresa". No entanto, ao contrário da CSN, a empresa prefere uma entrada mais amigável na companhia, segundo apurou a Agência Estado.

Valorização

Desde que a CSN fez sua proposta, o valor de mercado da Cimpor cresceu ? 699 milhões, passando de ? 3,669 bilhões no dia anterior à oferta para ? 4,368 bilhões no fechamento de ontem. As ações da empresa portuguesa fecharam em alta ontem, sinal de que o mercado acredita que a CSN poderá fazer uma nova oferta ou que outras empresas poderão entrar na disputa. A ação da Cimpor fechou cotada a ? 6,50, com alta de 1,06%.

Outra cimenteira que estaria interessada na Cimpor é a suíça Holcim, que também está presente no Brasil. Procurada pela reportagem, a empresa informou que está atenta ao processo. "Nós tomamos conhecimento da oferta e estamos acompanhando seus desdobramentos", disse, por meio de nota. A Votorantim Cimentos também teria visitado Portugal para estudar uma possível aquisição da Cimpor, mas não comentou o assunto.

A oferta feita pela CSN gerou uma certa apreensão no mercado, por sinalizar a forte disposição da brasileira em investir fora do setor de siderurgia e mineração, até agora seus principais negócios. Estes setores são preferidos pelos analistas de mercado por causa da sua alta rentabilidade.

A CSN estreou no setor de cimento no Brasil no ano passado. Em 2010, pretende produzir 1 milhão de toneladas e, em 2011, cerca de 2,5 milhões de toneladas. A Cimpor, uma das dez maiores empresas mundiais de cimento em valor de mercado, tem capacidade de produção de 36 milhões de toneladas anuais, com cerca de 70% das vendas em mercados emergentes. No Brasil, ela ocupa a quarta posição em capacidade de produção. .