Título: BNDES empresta R$ 4,4 bilhões à Oi
Autor: Thomé, Débora ; Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2009, Economia, p. B1

Em menos de dois anos, financiamentos de bancos federais à empresa ultrapassam os R$ 11 bilhões

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem um empréstimo de R$ 4,4 bilhões para o grupo Oi. O dinheiro será investido na expansão das redes de telefonia fixa e móvel entre este ano e 2011. É o maior valor já concedido pelo banco estatal a uma única empresa de telecomunicações.

No mercado, de início, acreditava-se que a empresa usaria o dinheiro para melhorar o perfil de sua dívida, de R$ 21,1 bilhões, além de uma série de compromissos de curto prazo por causa da compra da Brasil Telecom (BrT), que custou cerca de R$ 12 bilhões. Contudo, Alan Fischler, chefe do Departamento de Telecomunicações do BNDES, informou que o empréstimo só pode ser usado para o investimento apresentado.

O BNDES é o maior acionista individual da Telemar Participações, controladora da Oi. O crescimento do banco no capital da empresa ocorreu na época da reestruturação societária, quando a Oi comprou a BrT. A ideia, porém, é que o banco vá saindo à medida que os fundos de pensão Previ, Funcef e Petros elevem a sua participação na companhia, que é controlada pelos grupos La Fonte e Andrade Gutierrez.

O banco nega qualquer relação entre a sua participação no grupo e o financiamento. Fischler ressalta que todas as companhias de telefonia recebem empréstimos do BNDES. Desde 1998, foram R$ 29,4 bilhões para o setor.

Os recursos de fontes federais foram fundamentais para que a Oi conseguisse fechar a compra da BrT, no ano passado. O BNDES, por exemplo, concedeu um financiamento de R$ 2,5 bilhões para o enxugamento societário da Oi, operação que precedeu à compra. Esse enxugamento, no total, consumiu R$ 2,9 bilhões.

O Banco do Brasil também foi fundamental no negócio, ao efetuar um empréstimo de R$ 4,3 bilhões à Oi. O financiamento provocou polêmica, por fugir do padrão do banco, ao ultrapassar o limite normal de exposição do BB a um único grupo econômico. E também pelo fato de a Previ, fundo de pensão dos funcionários do banco, ser um dos maiores acionistas do grupo de telecomunicações. À época, o banco negou qualquer conflito de interesse na operação.

METAS

Segundo Fischler, a maior parte do financiamento anunciado ontem será usada no cumprimento de metas da Oi na telefonia fixa até 2011. "O financiamento, por enquanto, foi apenas aprovado, mas a liberação acontece aos poucos, conforme vai se confirmando que os investimentos estão sendo realizados conforme o previsto", disse.

Sem poder usar esses recursos para quitar dívidas, a Oi vem recorrendo ao mercado. No início do ano, fez emissão de R$ 3 bilhões em debêntures e está se preparando para fazer outra no mesmo valor. O financiamento do BNDES será reajustado pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais 3,95%, para pagamento em 9 anos.

Com a compra da BrT, a Oi se tornou poderosa não só nacionalmente, mas também com capacidade de partir para compras no exterior, isto é, depois que conseguir arrumar a casa e voltar a se capitalizar. Fontes do mercado acreditam que a empresa tem boas oportunidades tanto em Portugal quanto na Argentina, onde, por restrições da Anatel local, a Telecom Itália terá de desfazer de seus negócios. Já no ano que vem, a Oi pode voltar às compras.