Título: Filho de ditador tem papel-chave
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2009, Internacional, p. A10

Pedro Bordaberry já anunciou apoio pessoal a Lacalle

Não é fácil ter o sobrenome Bordaberry. Ele se associa imediatamente ao ditador Juan María Bordaberry (1973-1976) e ao termo "bordaberrização", que se refere a uma ditadura militar que instala um civil no cargo formal da presidência. Por isso, o filho do ex-ditador, Pedro Bordaberry, usou seu prenome em letras garrafais em seu material de campanha, enquanto o comprometedor sobrenome aparecia em letras miúdas.

Bordaberry surpreendeu nas eleições presidenciais ao obter 16,7% dos votos, segundo boletins provisórios divulgados ontem. Com apenas 10 anos na politica e somente a experiência como ministro do Turismo na virada do século, ficou em terceiro lugar nas urnas, atrás do candidato governista, o ex-guerriheiro José Mujica (preso nos anos 70 por ordens de seu pai) e o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, candidato do opositor Partido Nacional.

Com isso, Bordaberry será o fiel da balança do segundo turno, marcado para 29 de novembro. Lacalle, após o anúncio de que haveria um segundo turno, fez um aceno a Bordaberry, em busca de apoio. O jovem líder colorado respondeu imediatamente com a declaração de respaldo pessoal a Lacalle. No entanto, o apoio formal do Partido Colorado ao Partido Nacional somente será definido amanhã.

As semelhanças com o pai, eleito em 1971 e títere dos militares entre 1973 e 1976, porém, não são muitas. Bordaberry segue a linha tradicional de seu partido, que admite a tradicional presença do Estado por meio das estatais, mas sem concordar com as políticas sociais da Frente Ampla. "Tanto Estado quanto necessário, tanto mercado quanto possível", explicam seus assessores. Desta forma, fica em um ponto equidistante da Frente Ampla, que quer mais presença estatal, e a redução do peso do Estado na economia ambicionada pelo partido Nacional.

Bordbaberry tenta ao máximo desvincular-se da imagem negativa do pai, detido pelo assassinato de 14 pessoas durante a ditadura. Nessa empreitada, teve sucesso, pois conseguiu recuperar o Partido Colorado, que em 2004 havia protagonizado a pior eleição em 170 anos de História, ao obter somente 10% dos votos. Neste domingo, segundo dados provisórios, Pedro Bordaberry aumentou o volume de votos em 75% ao conseguir 17,5% dos votos.

Segundo o duas vezes presidente, o colorado Julio María Sanguinetti, disse ao Estado, o novo líder do partido conseguiu não ser vinculado ao nome do pai. Sanguinetti argumentou que Bordaberry representa a "renovação" do partido.