Título: Ibama impõe ao governo 36 projetos de preservação
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2008, Nacional, p. A9

Programa de conservação da fauna e da flora, paralelo à obra do São Francisco, descobriu nova espécie de cobra

Para executar as obras de transposição do Rio São Francisco, o governo federal está sendo obrigado a realizar 36 projetos e programas ambientais, por exigência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Um deles, o de conservação da fauna e da flora locais, já deu fruto inesperado ao descobrir uma nova espécie de cobra nas faixas de terras que foram desmatadas ao longo dos dois canais.

Com apenas 25 centímetros de comprimento, a nova cobra brasileira ainda não tem nome nem identificação científica. ¿Ela foi encaminhada a um especialista, que vai estudá-la e depois publicar as análises¿, explicou o professor Luiz César Machado Pereira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), responsável por esse programa.

Entre professores e estudantes, Pereira conta com uma equipe de 22 pessoas para cuidar da fauna e uma equipe de 16 pessoas para cuidar da flora.

INVENTÁRIO

O trabalho de Pereira e suas duas equipes é fazer o inventário das áreas afetadas pelas obras, o resgate de animais e plantas antes do desmatamento e, posteriormente, o monitoramento. Só no mês passado, o grupo capturou 350 animais, dos quais 310 foram soltos novamente.

¿Já encontramos várias espécies de pica-pau, pequenos marsupiais, muitos répteis, veados-catingueiros, grande quantidade de cachorros-do-mato, jaguatiricas, gatos-maracajás e até pumas. Entre as plantas, encontramos muitas bromélias, aroeiras, a coroa-de-frade, altamente ameaçada, e árvores com mais de 100 anos, como a imburana¿, relata Luiz Pereira.

O professor da Univasf afirma que está aprendendo muito com o programa, mesmo porque, segundo ele, a caatinga é o bioma menos estudado do País.

¿Há pouca coisa publicada sobre a caatinga em nível científico¿, informa. ¿Nosso maior desafio é o de entender como trabalhar no processo de conservação desse bioma.¿

Um dos objetivos desse programa é montar um banco de germoplasma, no qual será armazenada a variabilidade genética das espécies encontradas.

Antes de qualquer desmatamento nas faixas de terra por onde passarão os canais ou serão construídos os reservatórios, a primeira equipe a ser acionada é a dos arqueólogos. Eles recolhem todos os indícios de antiga ocupação humana da área e de existência de fauna e flora pré-histórica.

O material recolhido até agora foi encaminhado à Universidade Federal de Pernambuco e ao campus da Univasf na cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí.

Após a passagem dos arqueólogos pelas áreas, é a vez de serem acionadas as equipes do programa de conservação da flora e da fauna.

LOTES

A supressão da vegetação só é iniciada depois do inventário e do resgate de animais e plantas. O desmatamento é feito em três fases. O corte da vegetação é iniciado com foice e facão e concluído com motosserra.

Toda a lenha, as estacas e os mourões são separados e empilhados, em lotes numerados. A vegetação com menos de 20 centímetros de altura é triturada. Depois do corte da vegetação, é feita a raspagem do solo, que é misturado à vegetação triturada para fazer o adubo que será usado na recuperação das áreas degradadas.

A madeira recolhida nessas áreas será doada para as prefeituras das cidades próximas e para a unidade do Exército em Petrolina, em Pernambuco.

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