Título: América Latina crescerá menos
Autor: Froufe, Celia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2008, Economia, p. B3

Para o BID, a região está se saindo bem na crise, mas o crescimento será reduzido para 4% ou 4,5% este ano

As perspectivas econômicas da América Latina e do Caribe na atualidade são as melhores das últimas décadas, apesar da desaceleração da economia americana e da falta de estabilidade dos mercados financeiros mundiais, de acordo com o informe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O documento será divulgado hoje. A afirmação faz parte da mensagem de introdução do documento do presidente do BID, Luis Alberto Moreno.

¿Até o momento a crise do mercado hipotecário dos Estados Unidos não teve um impacto considerável no crescimento da região¿, segundo o relatório. O crescimento latino-americano é atribuído, em parte, a ¿boas políticas macroeconômicas¿.

Apesar disto, o documento ressalta que as projeções de crescimento da região em 2008 seriam entre 4% e 4,5%, pelo menos um ponto porcentual abaixo do registrado em 2007. A região sofreria com uma ¿desaceleração do crescimento¿ dos Estados Unidos e também com a queda dos preços dos produtos exportados pelos países da região. Também é destacado o fato de que a inflação poderá aumentar na região, assim como o endividamento público de alguns países.

INFLAÇÃO

Apesar de o documento destacar os resultados positivos das economias da região em 2007, ele também se refere a problemas econômicos importantes, como a deterioração da situação fiscal em virtude do aumento do gasto público, da redução dos saldos em conta corrente da maioria dos países e uma alta da inflação provocada pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia.

A expectativa é de que, em 2008, ¿se colocará em prova a solidez das políticas macroeconômicas, a efetividade das políticas sociais e a capacidade de resposta dos sistemas políticos¿. Segundo o documento, não apenas será necessário preservar o crescimento e a estabilidade como melhorar a qualidade de vida e criar uma sociedade mais inclusiva e eqüitativa.

IIF

Já o Institute of International Finance (IIF) prevê que a inflação brasileira subirá mais e a atividade crescerá menos neste e no próximo ano. O estudo foi divulgado ontem durante o IIF Latin America Economic Fórum, um evento que ocorre paralelamente à 49ª Reunião Anual de Assembléia de Governadores, realizado em Miami. De acordo com a projeção da equipe do IIF, o PIB brasileiro deverá mostrar expansão de 4,4% este ano e de 4,3% em 2009, porcentuais inferiores à taxa de 5,4% de 2007, mas maiores do que o resultado verificado em 2006, de 3,8%.

¿Este ano, esperamos um equilíbrio fiscal brasileiro robusto, em que o crescimento econômico se manterá relativamente forte¿, consideraram os analistas da instituição no documento. Para a inflação, o IIF conta com uma taxa de 4,6% este ano, ligeiramente acima da meta de 4,5% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para ser perseguida pelo Banco Central.

DESAFIOS

O instituto destaca que os bancos centrais da América Latina estão enfrentando um conjunto de desafios sem procedentes, que é constituído de ¿gaps¿ de produção com elevação das taxas de inflação, apreciação das moedas domésticas e um enfraquecimento da demanda externa. Em resposta a pressões inflacionárias, principalmente dos custos com energia e alimentação, avaliam os técnicos do IIF, o México e o Brasil estão mantendo uma política de juros relativamente altos, enquanto países como Chile, Colômbia e Peru já aumentaram suas taxas. ¿Apesar dessas ações, a inflação na maior parte dos países da região deve ficar perto ou acima do teto da banda de 2008¿, consideraram.

O fortalecimento dos fundamentos econômicos, a elevação dos preços das commodities, o diferencial de taxa de juros e o enfraquecimento global do dólar têm contribuído, de acordo com o relatório, para o fortalecimento das moedas da América Latina. O documento destaca o resultado do Brasil e da Colômbia, países em que as divisas apresentaram rapidamente uma valorização em relação à moeda americana, tanto em termos reais quanto em nominais. Em termos reais, para exemplificar, o dólar passou de R$ 2,34 ao final de 2005 para R$ 1,78 em dezembro do ano passado. ¿Os bancos centrais do Brasil, Argentina e Peru continuam a intervir no mercado de moeda estrangeira num esforço para conter a apreciação da moeda doméstica.¿

O relatório do IIF lembra também que a política fiscal brasileira tem sido expansionista e que, apesar de aumentar os gastos, o governo conseguiu reduzir seu resultado negativo. ¿O déficit do setor público diminuiu para 2,3% do PIB em 2007, de 3% do PIB em 2006. O superávit público do setor primário era de 3,98% do PIB em 2007, acima da taxa de 3,86% do PIB em 2006 e acima da meta de 3,8% do PIB¿, comparou o documento. O relatório cita ainda o ganho da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no ano passado, de 43,7%, levando em consideração que o mercado de ações da América Latina apresentou alta pelo quinto ano consecutivo, acima do resultado de outros mercados emergentes no ano passado.

Além disso, o IIF comenta que os indicadores sociais têm apresentado melhora significativa na região em relação a vários anos passados e que a redução da pobreza tem sido um desafio formidável na América Latina. ¿ A pobreza tem diminuído com programas assistenciais como Bolsa-Família, no Brasil, Jefes y Jefas de Hogar, na Argentina, Oportunidades, no México, Juntos, no Peru, e Chile Solidário¿, informou o documento. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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