Título: Avibrás reage à perda de seu controlador
Autor: Godoy, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2008, Economia, p. B15

Dois meses após o desaparecimento de João Verdi em um acidente, empresa define sucessão e retoma planos

Roberto Godoy

A Avibrás Aeroespacial, principal indústria de sistemas de defesa do Brasil, não vai fechar. A empresa também não será vendida para grupos estrangeiros, nem sofrerá intervenção do governo. Os salários, atrasados durante cinco meses, foram pagos. Não houve demissões. A ofensiva comercial prevista para março está mantida. Mas será executada em etapas longas.

Segundo o vice-presidente, Sami Hassuani, a crise vai cedendo aos poucos, cerca de dois meses depois do desaparecimento, a 23 de janeiro, do fundador e presidente do grupo Avibrás. João Verdi de Carvalho Leite, pilotava seu próprio helicóptero em um vôo entre Angra dos Reis e São José dos Campos. Havia um só passageiro a bordo: sua mulher, Sonia Brasil de Carvalho Leite.

Tem sido um período turbulento na área industrial, uma fortificação no alto de uma colina, ao fim de uma estrada sinuosa que começa no km 14 da rodovia dos Tamoios, em Jacareí.

Quando Verdi desapareceu a empresa estava com cinco meses de salários atrasados, mais 13º e gratificações. Essas pendências foram quitadas em fases e estão zeradas desde o dia 15 de fevereiro. Os funcionários da área de produtos militares, cerca de 1/3 dos 1.100 contratados, estiveram em licença remunerada durante dezembro e voltaram ao trabalho faz dois meses. Sami considera que a situação da companhia hoje não é diferente da encontrada nos últimos anos: ¿há grandes perspectivas de curto e médio prazo, com contratos em carteira que poderão dar tranqüilidade ao crescimento da Avibrás; ao mesmo tempo, há um ambiente ruim para os negócios de defesa, pela inadequação das bases legais e, com freqüência, pela indisposição política, o que dificulta a obtenção de garantias de contratos de exportação¿. Hassuani destaca que esses ¿são elementos negativos, que levam o Brasil a perder espaço estratégico no cenário mundial e bilhões de dólares em divisas¿.

Em novembro de 2007, em entrevista ao Estado, João Verdi avaliou as possibilidades imediatas para as vendas brasileiras de equipamentos militares em 4 bilhões anuais. Só a Avibrás, disse, poderia responder por 1,3 bilhão.

A empresa espera providências da área econômica do governo para obter a garantia bancária a um contrato de fornecimento - no valor estimado de R$ 300 milhões - para o exército da Malásia de novos foguetes, veículos lançadores, blindados de comando e centrais de tiro, de seu produto mais bem sucedido, o sistema de foguetes Astros-II. Os ministérios da Defesa, das Relações Exteriores e do Desenvolvimento estão apoiando a operação. ¿Nem assim a coisa se resolve¿, desabafa Hassuani, que define o processo como ¿absurdo e surreal¿.

No final do mês a Avibrás Aeroespacial realizará uma assembléia de acionistas. O único herdeiro de Verdi, seu filho João Brasil, 41 anos,um bem sucedido empresário do setor financeiro, pretende manter a diretoria profissional. As buscas pelo helicóptero desaparecido foram oficialmente suspensas. A empresa e a família mantêm um grupo de crise que avalia cada nova informação e considera a reabertura das operações.

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