Título: Avibrás pode enfrentar nova crise
Autor: Godoy, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2009, Economia, p. B16

Em recuperação judicial, grupo busca recursos do BNDES para exportar

Roberto Godoy

O Exército da Malásia, o maior cliente da indústria de sistemas de defesa do Brasil, recebe até o dia 20 o segundo lote de sua encomenda de R$ 500 milhões em foguetes, veículos lançadores, carros comando e unidades de apoio, todos fornecidos pelo grupo Avibrás Aeroespacial.

Da mesma forma que aconteceu com a primeira leva, concluída em novembro do ano passado, o comissionamento acontece três meses antes do prazo. Nos testes de recebimento, realizados esta semana no campo de provas do Comando do Exército, em Formosa (GO), a 85 quilômetros de Brasília, todos os 96 foguetes de diversos tipos e alcance coletados aleatoriamente entre as quase cinco mil unidades que esperam embarque funcionaram bem - cumpriram a trajetória, dispersaram a submunição das ogivas múltiplas e atingiram os alvos.

A empresa, maior produtora de equipamentos militares do País, está em recuperação judicial. E, embora a recomposição seja bem-sucedida, corre risco: sem acesso a linhas de antecipação de recursos do tipo pré-embarque, do BNDES, não terá como atravessar os próximos oito meses, até dezembro, quando fará a entrega principal do fornecimento negociado: carretas semiblindadas e centrais de controle. O valor pretendido pela empresa é estimado em R$ 75 milhões.

O processo de recuperação tem sido rápido. A corporação havia demitido 350 funcionários. O cumprimento do contrato permitiu contratar 600 técnicos a partir de outubro. Cerca de 400 pequenos fornecedores tiveram seus créditos quitados. Todas as dívidas trabalhistas foram pagas. Os credores privados receberão em seis parcelas. A última prestação vence no dia 21 de julho. "Depois disso, o passivo restante será representado pelas dívidas contratuais e tributárias contraídas com a União, que serão capitalizadas na proporção de 25% a 30%, conforme consta do plano de recuperação", explica o presidente da Avibrás, Sami Hassuani. "O governo, por meio do Tesouro, vai passar a ter uma considerável participação na empresa."

"Precisamos do dinheiro para produzir o 3º e o 4º lotes, além de atender a outros pedidos menores, o que permitirá gerar rapidamente mais 300 empregos diretos", diz Hassuani. O problema é a burocracia. O BNDES alega que o regime de recuperação judicial é fator impeditivo - mesmo com os compromissos da Avibrás sendo cumpridos antes das datas estabelecidas perante a Justiça.