Título: BNDES põe US$ 1,75 bi no país, em 50 projetos
Autor: Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2008, Cidade/Metropole, p. C4

Depois de séculos de colonização européia e de o continente ter virado palco de disputa das superpotências durante a Guerra Fria, a chamada ¿Renascença Africana¿ deste início do século 21 está sendo fomentada pela presença dos países em desenvolvimento, apelidados de Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). ¿De todos, porém, a potência mais agressiva é a China, ávida por garantir matérias-primas para sustentar suas altas taxas de crescimento¿, avalia o professor de Ciências Políticas da PUC Cláudio Ribeiro, autor de uma tese de doutorado sobre as relações político-comerciais Brasil-África (1985-2006). ¿Os chineses dominam o continente. No interior de Angola, você encontra até placa de trânsito em chinês.¿

Na corrida desenvolvimentista da África, avalia Ribeiro, o Brasil está chegando atrasado, mas não se sai mal. Estima-se que cerca de 10% do PIB angolano - de US$ 60 bilhões em 2007 - esteja nas mãos de empresas brasileiras. ¿Existe um capital político muito favorável ao Brasil, primeiro país a reconhecer a independência de Angola¿, diz Ribeiro. ¿Eles vêem a China como predatória e têm resistência ao imperialismo americano e europeu.¿

Com um crescimento médio de 15% ao ano, Angola tem puxado o desenvolvimento do continente africano desde que iniciou seu processo de paz, em 2002. O grande motor desse crescimento é, sem dúvida, o petróleo. Mas não são apenas os países exportadores de petróleo - Angola e Nigéria, entre outros - que estão crescendo a taxas elevadas. Na última década, 17 países não exportadores de petróleo, e que representam um terço da população do continente, têm crescido a uma taxa acima de 4% ao ano. Depois de duas décadas de estagnação nas relações comerciais e diplomáticas entre Brasil e África, o governo Lula iniciou uma fase de reaproximação. Desde 2003, o presidente realizou oito visitas oficiais ao continente e foram abertas 12 embaixadas.

A iniciativa diplomática coincidiu com o boom africano, impulsionando ainda mais as relações. Desde o início da década, as exportações brasileiras cresceram mais de 500%. No ano passado, o Brasil exportou US$ 8,5 bilhões - 5,3% do total exportado - para a África, e importou o equivalente a US$ 11,3 bilhões, ou 9,4% de tudo que foi importado pelo País.

O grande impulso para o crescimento dos investimentos brasileiros em Angola vem do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Desde 2006, o banco aprovou duas linhas de crédito no valor total de US$ 1,75 bilhão para financiar a compra de equipamentos brasileiros para obras de infra-estrutura e desenvolvimento de Angola. Desse total, US$ 1,472 bilhão já foram aprovados, correspondendo a 50 projetos.

Além de viabilizar os contratos de grandes construtoras como Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Queiroz Galvão, a linha de crédito de Angola beneficia, segundo o BNDES, cerca de 200 pequenas e médias empresas brasileiras, que exportam seus produtos e serviços indiretamente, como fornecedoras das grandes construtoras.

Angola é também um destino importante de investimentos da Petrobrás, que pretende investir US$ 900 milhões na exploração e produção de petróleo até 2012. A estatal também tem presença forte na Nigéria, com investimentos de US$ 1,4 bilhão até 2012. E como a África tem características geológicas similares às do Brasil, com as perspectivas de exploração da camada pré-sal os investimentos devem se intensificar.

Primeira companhia privada brasileira a se aventurar no continente, nos idos de 1984, a Odebrecht continuou firme durante toda a guerra civil, transformando-se em uma grande parceira do governo de Angola. A construtora é vista quase como o 38º ministério do País, tamanha sua presença no continente. ¿O fato de termos chegado no momento em que a situação estava barra-pesada nos deu um capital político importante¿, afirma o diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Roberto Dias. ¿Toda a ponte de relacionamento entre Brasil e Angola nos anos 80 terminou sendo algo da responsabilidade da Odebrecht.¿ Além de ser responsável por grandes obras de engenharia, a Odebrecht é parceira do governo angolano na exploração de diamantes e petróleo.

Na esteira das grandes construtoras, muitas empresas de material de construção têm se instalado no País. ¿Há um gargalo logístico grande, por isso estimulamos nossos fornecedores de blocos, fundações e esquadrias, entre outros, a se instalar em Angola conosco¿, afirma o diretor de Desenvolvimento Comercial da Camargo Corrêa, Carlos Fernando Namur. A construtora estreou no continente em 2005 e já investiu US$ 100 milhões só em Angola, na construção de rodovias, empreendimentos imobiliários, energia e saneamento.

Por iniciativa dos próprios angolanos, o país africano é hoje o terceiro país para as franquias brasileiras, com 15 marcas, e está perto de passar os Estados Unidos (17). ¿Eles vêem nossas marcas em Portugal, onde temos 29 marcas, e nos procuram para montar negócios¿, diz o presidente da Associação Brasileira de Franquias, Ricardo Camargo.