Título: 436 espécies estão sob risco em SP
Autor: Girardi, Giovana
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2008, Vida &, p. A23

Havia dez anos que Estado não atualizava lista; animais do cerrado estão entre os mais ameaçados de extinção.

Pelo menos 436 espécies de animais vertebrados do Estado de São Paulo estão, em diferentes medidas, ameaçadas de extinção. O dado foi apresentado ontem pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente no Jardim Zoológico da capital, dez anos após a última divulgação de uma lista de fauna em risco no Estado.

Veja as listas completas dos animais ameaçados

Entre as espécies consideradas criticamente ameaçadas - nível mais avançado de vulnerabilidade - estão tatu-canastra, onça-pintada, ariranha, veado-campeiro, baleia-azul e arara-vermelha. Oito foram consideradas regionalmente extintas: perereca-verde-de-riacho-de-Paranapiacaba e peixe surubim-do-Paraíba, no continente; bodião-rabo-de-forquilha, badejo-tigre, badejo-sirigado, tubarão-limão, cação-lixa e peixe-serra, no mar. O mico-leão-preto, após recuperação da população, está classificado como em perigo.

De acordo com Paulo Bressan, presidente da Fundação Parque Zoológico SP e coordenador do grupo de 61 pesquisadores responsável pelo levantamento, não é possível comparar a lista atual com a anterior - e dizer, por exemplo, se houve aumento de espécies ameaçadas - porque a metodologia mudou. Na verdade, em 1998 não havia regra clara, mas sim a percepção dos cientistas. Agora, o Estado seguiu os moldes aplicados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), já usados para elaborar a lista nacional.

Ao todo, foram analisadas 2.603 espécies. Para 161 delas, os dados foram considerados insuficientes para classificação. Outras 86 espécies entraram na categoria ¿quase ameaçadas¿. O secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, afirmou que a idéia agora é atualizar a lista com mais freqüência, ao mesmo tempo que pediu mais fiscalização por parte da polícia ambiental para evitar tráfico de animais. Citou ainda os programas de aumento de recuperação das matas ciliares .

O levantamento mostrou que a devastação do cerrado paulista tem refletido diretamente sobre a fauna. Vários lagartos e cobras que vivem exclusivamente nos campos estão ameaçados por causa de destruição dessa vegetação. Outros dois pontos críticos são a Ilha dos Alcatrazes e a Ilha de Queimada Grande. Na primeira, o animal mais ameaçado é a jararaca-de-Alcatrazes, na segunda, a jararaca-ilhoa. Ambas são endêmicas de cada ilha.

¿Já presenciamos gente saindo com caixas cheias de cobras. Um aluno meu chegou a ser abordado por um homem que queria comprar uma¿, conta Otávio Marques, do Instituto Butantã, que coordenou o estudo desse grupo.

Entre as aves, destaque para o bicudinho-do-brejo-paulista, endêmico da região do Alto Tietê. ¿Acreditamos que não haja mais do que 250 exemplares na natureza e não existem indivíduos em cativeiro. Se perder esse hábitat, ele estará extinto¿, comenta Luis Fábio Silveira, da USP, coordenador do grupo de aves.