Título: Para fugir do vício, ortopedista vira geriatra
Autor: Sant¿Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2007, Vida&, p. A24

A droga era fácil de conseguir. Barata, tinha efeitos rápidos e, afinal de contas, ele era médico. Que mal teria? Esse foi o início do caminho que levou o ex-ortopedista R.R., de 32 anos, a um leito de UTI, após uma overdose de opiáceo. O primeiro contato com a droga foi quando se recuperava de um acidente de moto. As dores no joelho eram aliviadas com um medicamento administrado por seu médico. Dava certo.

Um ano depois, o joelho estava ótimo, R.R, no entanto, já estava viciado. Trabalhando em vários prontos-socorros da região de Campinas, no interior do Estado, o acesso era garantido. Se fosse preciso, roubava. ¿Com o passar do tempo você perde a noção¿, diz. ¿Cheguei a usar até quatro ampolas em um só dia¿.

Cada uma delas, com 2 mililitros, é suficiente para aliviar a dor de pacientes com traumas ou dores oncológicas, por exemplo.

Após a segunda overdose, durante um plantão, R.R, foi encaminhado para o Uniad. ¿Fiquei alucinado no meio do hospital¿, diz.

Há um ano, não se droga e tenta reconstruir a vida. ¿O pior de tudo é o sofrimento que você causa para sua família¿, diz. Hoje, a ortopedia faz parte do passado. ¿Me afastei de tudo e resolvi seguir a área da geriatria, pois é mais tranqüila para mim¿.