Título: Mille e Gol disputam a preferência popular
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2007, Economia, p. B8

Por ser o carro mais barato do mercado e manter praticamente o mesmo design de seu lançamento, em 1984, o Fiat Uno (hoje chamado apenas de Mille), é um candidato a sucessor do Fusca, na visão de Vitor Meizikas, analista da Molicar. O Gol, lançado pela Volks em 1980, herdou a fama de resistente, mas o preço está acima de outros populares. E a versão atual é muito diferente da primeira, cujo design era mais quadrado. Em 27 anos, foram produzidos mais de 4 milhões de modelos Gol no País.

O New Beetle, versão produzida apenas no México, foi uma tentativa da Volks de oferecer aos apaixonados pelo Fusca um carro mais moderno. Lançado em 1998, o modelo tinhas preço salgado inicialmente. Com a valorização do real, a montadora consegue oferecê-lo agora por R$ 48,1 mil e as revendas têm até fila de espera. Em nove anos, porém, foram vendidas 2.670 unidades do modelo.

'É o sonho de qualquer fabricante criar um substituto para o Fusca', diz Luiz Carlos Augusto, diretor de Vendas e Marketing da Jato. Hoje, a visão do consumidor é muito diferente. 'As pessoas querem um carro pequeno, mas com conforto'. O Fusca é difícil de dirigir, pois o piloto não tem visão do pára-lama e estacionar é um suplício.

Para Meizikas, 'é um carro com carisma, mas para uso no dia a dia não presta, é uma carroça.' Apesar da crítica, ele reconhece que o modelo é muito valorizado, principalmente pelo saudosismo do mercado.

Pesquisa feita pela Molicar mostra que um modelo 1994, cotado em julho de 2004 em R$ 6,5 mil, hoje é vendido por R$ 7,6 mil, uma valorização de 17%. Se a comparação for com o preço de sete anos atrás, a valorização chega a 35%. A versão de 1975 é oferecida a R$ 2.780 hoje, 3% mais que o preço de 2004 e 11% a mais que o de 2000.

O Fusca é o quinto colocado entre os usados que mais trocam de proprietário no Brasil, afirma Augusto. Pontos negativos são o alto custo do seguro (quase nenhuma seguradora aceita) e o elevado índice de roubo. Entre os atrativos estão a oferta abundante de peças, o baixo custo de manutenção e as alternativas para manter o Fusca rodando.

'Há alguns dias o cabo do acelerador quebrou quando eu voltava do trabalho para casa e eu calcei a peça com uma chave de fenda e fui embora', conta Roberto Rios, de 64 anos, um aposentado que segue trabalhando como supervisor de obras e tem um modelo 1978, verde claro. Para ele, outra vantagem é 'ficar camuflado.' Rios conta que, nos semáforos, ninguém coloca sacos com balas no retrovisor e nem faz malabarismos para ganhar trocados. 'Quando vêem um Fusquinha, eles desviam.'