Título: Caciques do PMDB prevêem abalo na coalizão
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2007, Nacional, p. A5

Desgaste com Renan e Roriz, apoio incerto do governo e demora na nomeação de ministro desagradam à legenda

Integrantes do comando do PMDB já se preocupam com os desdobramentos políticos das investigações feitas contra dois de seus integrantes, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador Joaquim Roriz (DF). Com o PMDB no centro de denúncias de irregularidades, líderes partidários desconfiam que, apesar do apoio explícito manifestado pelo Palácio do Planalto a Renan, na semana passada, a crise política atual pode comprometer o futuro da coalizão firmada este ano com o PT para sustentar o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro do Congresso.

Em conversas internas, os dirigentes peemedebistas acham que o partido tem a imagem prejudicada pelas denúncias contra Renan e Roriz e avaliam que o governo federal pode não sustentar por muito tempo o apoio ao presidente do Senado.

Além disso, eles não escondem sua insatisfação pelo fato de Lula não ter nomeado até agora o novo ministro de Minas e Energia, cargo vago desde a demissão de Silas Rondeau, envolvido nas investigações feitas pela Operação Navalha - o ex-ministro teria supostamente recebido pagamentos irregulares da Construtora Gautama, principal empresa investigada pela Polícia Federal na chamada máfia das obras.

Rondeau negou que tivesse recebido qualquer recurso para facilitar a aprovação de projetos de interesse da Gautama. A Polícia Federal, até o momento, não está investigando o ex-ministro.

COTA

A questão é que a nomeação de Rondeau para o posto de ministro sempre foi considerada como da cota política pessoal do senador José Sarney (PMDB-AP) e dos peemedebistas em geral, embora tivesse respaldo técnico da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Com Rondeau fora do cargo há mais de um mês, o presidente não devolveu o posto ao partido até agora - embora o PMDB tenha feito a indicação de Márcio Zimmermann, de perfil técnico, como substituto.

Apesar dos nervos à flor da pele dentro do PMDB, especialmente por causa do problema político enfrentado por Renan, não existe até agora nenhuma possibilidade de rompimento da coalizão com o PT em torno do governo de Lula. Mas os peemedebistas acham que a relação pode ficar estremecida se quadros importantes do partido forem abandonados à própria sorte nessas investigações.

MENSALÃO

Os peemedebistas lembram que o partido apoiou ao máximo os petistas durante a crise do mensalão, que envolveu vários integrantes do PT. Acham que a reciprocidade de apoio no Congresso, que deveria acontecer agora, tem se restringido a manifestações isoladas de apoio, que refletem mais posições individuais de alguns parlamentares petistas do que uma visão partidária.

Pior: acham que setores do PT e do governo começaram a enxergar a possibilidade de herdar a presidência do Senado por conta dos problemas de Renan. Para os dirigentes peemedebistas, entretanto, mesmo que o presidente do Senado saia, o cargo tem de continuar com o PMDB, sob risco de a coalizão com Lula ficar comprometida, uma vez que o PT já comanda a Câmara, com Arlindo Chinaglia (SP).