Título: 'ABC' volta a chamar Brasil de imperialista
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2007, Economia, p. B5

Como na primeira vez, a razão são os acordos para a venda da energia da Hidrelétrica Binacional de Itaipu

O jornal ABC Color, o principal do Paraguai, voltou ontem a qualificar o Brasil e a Argentina de imperialistas. Em editorial que ocupou toda a primeira página, afirmou que as hidrelétricas binacionais de Itaipu, com o Brasil, e a de Yaciretá, com a Argentina, em vez de contribuir para desenvolver as três economias, tornaram-se um meio de os dois vizinhos tirarem proveito do Paraguai.

O ABC Color acusa as autoridades do próprio país de terem permitido os 'vergonhosos acordos' ao longo das últimas três décadas, que significaram a venda da parte paraguaia de energia elétrica em Itaipu com preços 'trinta vezes mais baixos que o real'.

Conservador e nacionalista, o jornal sustenta que o Brasil e a Argentina são 'cúmplices na infame exploração do Paraguai'. O ABC, com freqüência, exige a revisão dos acordos de preços e uma atualização substancial das tarifas da energia elétrica vendida ao Brasil. Para o ABC, o presidente Nicanor Duarte Frutos é um 'entreguista'. E alertou: 'Se não forem tomadas medidas para revisar dívidas, tarifas, compensações e, principalmente, os injustos termos dos tratados, que impedem que o Paraguai disponha da energia da hidrelétrica, a situação pode levar a conseqüências imprevisíveis'.

'PERERÎ'

Empresários da União Industrial Paraguaia (UIP) e de outras organizações voltaram, ontem, a destacar a posição de 'perer¿' (fraco, no idioma guarani) do governo Duarte Frutos nas negociações do Mercosul. Eles consideram que o governo deveria assumir posições mais 'duras' contra os 'costumeiros abusos do Brasil e da Argentina'.

O vice-presidente paraguaio, Luis Alberto Castiglioni, desafiou o presidente a 'mostrar-se valente' diante dos sócios do Mercosul. Castiglioni é conhecido pela defesa de negociações de livre comércio com os Estados Unidos, passando por cima do Mercosul.

Ontem, em encontro com o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, a UIP sustentou que é preciso 'firmeza e intransigência' para conseguir acordos com terceiros países ou blocos. Nos últimos dois anos, lideranças empresariais em Assunção e Montevidéu pregaram a necessidade de acordos diretos com os EUA e outros blocos.

'Não tenho uma visão idílica do processo de integração regional', admitiu Vázquez. 'Não a tenho, mas tampouco sou fatalista. Sou consciente de seus problemas e não me resigno. O Uruguai não se resigna a esse Mercosul da retórica protocolar e das fotos oficiais. Em 2006, o governo Vázquez flertou com a possibilidade de um acordo com os EUA, mas as negociações ficaram em banho-maria.

No discurso de encerramento da Cúpula, Duarte Frutos disse que o Mercosul passa por um momento de significativas 'objeções e não faltam razões objetivas para isso'. Mas também disse que 'a dissolução do Mercosul seria um fracasso, um retrocesso, uma idiotice'. O presidente também criticou as assimetrias comerciais existentes no bloco, que prejudicam Paraguai e Uruguai.