Título: CIA liga comandante do Exército da Colômbia aos paramilitares
Autor: Richter, Paul e Miller, Greg
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2007, Internacional, p. A10

Informações repassadas à CIA por serviços de inteligência revelam que o comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya, manteve ampla colaboração com grupos paramilitares de direita, que Washington considera organizações terroristas - entre elas um grupo chefiado por um dos principais traficantes de drogas do país.

Montoya, que é muito próximo do presidente Alvaro Uribe, passa a ser o oficial do mais alto escalão na Colômbia a ser implicado nesse escândalo político que eclodiu no país, envolvendo ligações entre as milícias paramilitares e autoridades do governo. Entre os membros do mundo político colombiano estão um ex-ministro das Relações Exteriores, um governador de Estado, vários deputados e o chefe da polícia nacional. Uribe reagiu com irritação à denúncia, publicada ontem pelo Los Angeles Times, pedindo que a CIA apresente provas à Justiça colombiana.

As informações sobre Montoya fazem parte de um relatório que circulou recentemente dentro da CIA indicando que, em 2002, o general e um grupo paramilitar planejaram e conduziram uma operação militar para eliminar guerrilhas marxistas de áreas próximas à cidade de Medellín. A operação deixou pelo menos 14 mortos, mas oponentes de Uribe alegam que dezenas de pessoas desapareceram em seguida.

As revelações envolvendo o general Montoya vêm à tona num momento em que o forte apoio americano ao governo da Colômbia está sob exame por parte da oposição democrata do Congresso. A informação poderá provocar uma pressão ainda maior para que a Casa Branca reduza ou redirecione essa ajuda. Isso porque Montoya seria o parceiro preferido do Pentágono e considerado figura importante no Plano Colômbia, financiado pelos Estados Unidos. A Colômbia recebe uma ajuda de US$ 700 milhões por ano dos EUA, sendo a terceira maior beneficiária da assistência externa americana.

O relatório, examinado pelo Los Angeles Times, inclui informações de outro serviço de inteligência ocidental, sugerindo que as autoridades americanas receberam informes similares de outras fontes confiáveis.

Além da estreita cooperação com as autoridades americanas no Plano Colômbia, Montoya também trabalhou como instrutor num centro de treinamento militar patrocinado pelos EUA, a Escola das Américas. Já existiam rumores de que Montoya trabalhava com grupos paramilitares, mas nenhuma acusação comprovada foi apresentada às autoridades.

Há décadas a Colômbia vem sendo devastada por uma guerra civil opondo milícias de esquerda contra o governo.

Os grupos paramilitares, dos quais há muito tempo se suspeita de ligações com o governo, juntaram-se à luta na década de 80. Aparentemente, foram criados como forças de defesa contra as guerrilhas de esquerda, mas se envolveram em roubos de terra, tráfico de drogas ou assumindo o controle de empresas.

Em 2002, após sua eleição, Uribe apresentou um plano para acabar com a guerra civil, e 31 mil combatentes de direita depuseram as armas. Dezenas de líderes se entregaram, com base na promessa de sofrerem penas de prisão mais leves. Mas Uribe se deparou com uma série de revelações sobre as relações entre paramilitares e autoridades próximas a ele.

CORTE DE AJUDA

De acordo com analistas, a revelação de que tais ligações já chegaram ao mais alto escalão do Exército deve intensificar os esforços dos democratas para cortar a ajuda militar à Colômbia por vários anos, no valor de US$ 3,9 bilhões. O equivalente a 80% desse montante vai para a polícia e o Exército do país.

Além dessa ajuda, o governo também pediu aprovação do Congresso para um acordo comercial separado entre EUA e Colômbia, que já vem encontrando oposição democrata.

O documento da CIA foi passado ao Los Angeles Times por uma fonte que não quis se identificar, mas disse ser funcionário do governo dos EUA. Ela teria divulgado a informação porque estava preocupada com o fato de o governo de Uribe não estar sendo levado mais em consideração pelo governo Bush.

A CIA não contestou a autenticidade do documento. Funcionários da agência também não o confirmaram. Ainda segundo o documento, informações de fonte comprovada ¿também poderiam implicar¿ o comandante das Forças Armadas , general Freddy Padilha de Leon, que comandou o Exército em Barranquilla durante o mesmo período.