Título: Alas do PT querem mudar economia
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2007, Nacional, p. A7

O 3º Congresso do PT, marcado para o segundo semestre do ano, será palco de críticas à política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar do recente lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É o que indicam cinco teses preliminares que serão debatidas no encontro, previsto inicialmente para julho e remarcado para agosto. Apesar de um total de 12 textos estarem em fase final de elaboração, esses cinco são apoiados por grupos como Campo Majoritário, Movimento PT, Articulação de Esquerda e Democracia Socialista. Juntos, eles respondem por quase 80% do Diretório Nacional petista.

Em geral, as teses reconhecem a importância do PAC como instrumento de desenvolvimento, mas algumas áreas da política econômica continuam sob o fogo cerrado. O Campo Majoritário - grupo liderado por nomes como o ex-ministro José Dirceu e o próprio Lula - foi um dos mais discretos. Mesmo assim, pediu a substituição do foco na estabilidade por um viés desenvolvimentista na tese Construindo um Novo Brasil. ¿Além da reforma política, da mudança da política econômica - com predominância do desenvolvimento sobre a estabilidade - temos de lutar por uma ampla reforma do Estado brasileiro¿, diz o texto.

Outros grupos foram mais enfáticos. A tese do Movimento PT, integrado pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, atribui aos juros e superávit primário os frágeis investimentos em infra-estrutura e ressalta que o PAC ainda é insuficiente. ¿O grande desafio do segundo mandato é exatamente superar a política econômica do primeiro, adotando um novo modelo, desconcentrador de renda e riqueza e indutor do desenvolvimento equilibrado. As iniciativas adotadas com o PAC já apontam nesse sentido, mas ainda são insuficientes¿, diz a tese, que leva o nome Por Todos os Sonhos, Por Todas as Lutas e condena ainda a autonomia do Banco Central. A gestão do BC também aparece no texto O PT e a Revolução Democrática, endossado pelo ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro e pela Democracia Socialista. O órgão, segundo o documento, ¿deve ser uma instituição da República e sua autonomia técnica deve estar subordinada ao presidente da República¿.

O texto Um Novo Rumo para o PT, apoiado inclusive por membros do Campo Majoritário que optaram por uma tese própria, diz que a discussão econômica não deve se limitar a juros e câmbio. Há, segundo o texto, ¿desequilíbrios formidáveis¿ como a dívida pública e o peso da carga tributária no País. A tese a Esperança é Vermelha, apoiada pela Articulação de Esquerda, engrossa o coro. Além de criticar juros e superávit, o texto diz que a política econômica deve ¿enfrentar especialmente o grande capital financeiro privado¿, para combinar crescimento e distribuição de renda.