Título: 'Brasil precisa se comprometer com o livre mercado'
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2007, Economia, p. B6

As políticas econômicas anunciadas pela Venezuela, Bolívia e Equador vão reduzir os investimentos estrangeiros nesses países e o Brasil precisa demonstrar comprometimento com o livre mercado para evitar uma contaminação. Esse é o alerta de Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que reúne 360 bancos de 60 países.

¿Seria lamentável que as percepções globais sobre a América Latina fossem afetadas por países como Venezuela, Bolívia e Equador, que correspondem a menos de 10% do PIB da região¿, disse Dallara. ¿Espero que os investidores continuem diferenciando os países, mas há um risco. Por isso, é importante que países como México e Brasil reafirmem o compromisso com o livre mercado.¿

O IIF apresentou ontem as previsões de investimentos estrangeiros nos países emergentes. Os fluxos de capital continuaram fortes em 2006, mas vão desacelerar em 2007, acompanhando o menor crescimento mundial. Em 2006, houve entrada líquida de US$ 501,8 bilhões nos emergentes, ante US$ 509,3 bilhões em 2005.

A previsão do IIF é que esse valor atinja US$ 468 bilhões em 2007, ainda bastante alto comparado com anos recentes - em 2004, foi de US$ 348,8 bilhões. Os economistas da associação prevêem a desaceleração da economia mundial, com conseqüente redução de liquidez, mas nada drástico.

A Europa lidera o ranking, com fluxo líquido de US$ 218,4 bilhões em 2006 e estimativa de US$ 214 bilhões em 2007. A Ásia vem a seguir, com fluxo líquido de US$ 197,3 bilhões em 2003 e previsão de US$ 168,6 bilhões em 2007 (incluindo investimentos estrangeiros diretos em ações, títulos e empréstimos bancários). A América Latina fica à frente apenas da África. Segundo o IIF, os países latino-americanos receberam fluxo líquido de US$ 45,9 bilhões em 2006 e devem receber US$ 54,9 bilhões em 2007.

Segundo Yusuke Horiguchi, economista-chefe do IIF, haverá saída de capitais da Venezuela por causa da ansiedade dos investidores. ¿O mercado financeiro já reagiu preocupado com o modo como o governo vai tratar as empresas no país.¿ Segundo ele, os temores dos investidores foram reforçados com a decisão do governo de aumentar a intervenção na economia.

Na opinião de Dallara, se os países da América Latina flertarem muito com a intervenção do governo na economia, vão perder competitividade. Segundo ele, a região já não está entre os locais mais atraentes para investimento porque cresce menos que outros emergentes.

¿Os países deveriam seguir o Brasil e o México, que chegaram a um caminho de estabilidade macroeconômica e baixa inflação. A inflação brasileira está próxima da americana - se tivéssemos levantado essa hipótese 10 anos atrás, diriam que estávamos loucos.¿

O investimento produtivo, que inclui o investimento estrangeiro direto e em ações, deve chegar a US$ 55 bilhões na região (ante US$ 46 bilhões em 2006). O Brasil vai receber quase metade disso. O País terá um investimento estrangeiro direto líquido de US$ 13 bilhões, só perdendo para o México na região. Em relação a ações, o Brasil vai liderar com folga, chegando a US$ 12 bilhões.

ALERTAS

Charles Dallara Diretor-geral do IIF

¿Seria lamentável que as percepções globais sobre a América Latina fossem afetadas por países como Venezuela, Bolívia e Equador, que correspondem a menos de 10% do PIB da região¿

¿Espero que os investidores continuem diferenciando os países, mas há um risco¿

¿Os países deveriam seguir o Brasil e o México, que chegaram a um caminho de estabilidade macroeconômica e baixa inflação¿