Título: Alckmin prepara governo paralelo para cobrar Lula
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2006, Nacional, p. A7

Candidato derrotado diz que a cada ação do presidente vai propor alternativas, como 'forma de fiscalização'

Expedito Filho

O candidato derrotado do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, avisou ontem que pretende ter papel de destaque na oposição no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a primeira semana pós-segundo turno - parte dela passada em Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal -, o tucano começou a organizar por tema todas as promessas feitas pelos candidatos na campanha.

A idéia de Alckmin é acompanhar com lupa o segundo mandato de Lula e exercer uma espécie de governo paralelo - para cada ação do presidente, apresentar uma alternativa e mostrar o caminho que seria adotado caso o ocupante do Palácio do Planalto fosse ele próprio, Heloísa Helena (PSOL) ou Cristovam Buarque (PDT). 'Será uma forma de fiscalização, mas de caráter propositivo', adiantou o tucano, em conversa com o Estado.

Outra missão que se impôs é manter-se próximo dos correligionários, a fim de ajudar a reorganizar o PSDB no Estado e trabalhar para consolidar o partido como grande força política do País.

Alckmin afirmou também que não será candidato a prefeito de São Paulo em 2008 nem pretende disputar uma vaga ao Senado. Em relação à presidência do PSDB, hoje nas mãos do senador Tasso Jereissati (CE), preferiu desconversar. 'Existem dois ansiosos na vida: jornalistas e políticos', disse, repetindo frase que sempre usa diante de perguntas embaraçosas.

ANIVERSÁRIO

No dia em que completou 54 anos, Alckmin almoçou no mesmo restaurante por quilo que freqüentou durante a campanha - o Paladar Real, em frente de seu comitê, no Itaim. Disse que agora se voltará mais para a medicina - pretende clinicar na Escola Paulista de Medicina - e quer aprender acupuntura.

Alckmin não esconde o desconforto com esses primeiros dias pós-derrota. Em 32 anos de vida pública é a primeira vez que se vê sem mandato, sem agenda e sem a caneta na mão. 'É a primeira vez que acordo e não tenho uma agenda.' O lado positivo, segundo ele, é que com a derrota vê a política de fora. 'É como se fosse um cientista político, olhando sem me envolver diretamente.'

Alckmin reconheceu a necessidade de o PSDB recolocar suas bandeiras, como a da privatização, mal defendida na campanha e explorada negativamente pelo adversário.

À noite, mais de 200 pessoas estiveram na festa surpresa em comemoração ao seu aniversário no restaurante Chácara Santa Cecília, em Pinheiros. FHC, o governador eleito de São Paulo, José Serra, Tasso e o senador Sérgio Guerra (PE), que coordenou a campanha, não foram porque estavam no exterior.

Ainda assim a festa foi considerada um sucesso, com fila na entrada. 'Ele não ganhou. Se tivesse ganho a fila estava em Pindamonhangaba', brincou o deputado Albano Franco (PSDB-SE). Alckmin chegou ao restaurante às 20h15, com a mulher, Lu. 'Ela disse que a gente ia comer pizza e quando vi tinha uma festa', contou o tucano.