Título: Asiáticos têm mais dinheiro porque dívidas são menores
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2006, Economia, p. B4

Os governos da Ásia têm mais dinheiro para educação e infra-estrutura porque devem menos que os latino-americanos e gastam menos com a Previdência, disse ontem a vice-presidente do Banco Mundial (Bird) para a América Latina, Pamela Cox. Logo, têm mais condições de investir no que gera crescimento.

Também o ajuste fiscal forçou a maioria dos latino-americanos a investir menos, segundo o economista-chefe do Bird para a América Latina, Guillermo Perry. Para acumular superávits primários, cortaram gastos produtivo, exceto Chile e Colômbia.

Mas também o caso brasileiro é diferente, disse Perry: o problema, no Brasil, não é o superávit primário, mas a composição dos gastos, muito rígida. Foi o mesmo recado transmitido, há poucos dias, pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Rodrigo de Rato.

Cox e Perry apresentaram ontem um relatório sobre a resposta da América Latina e do Caribe ao crescimento da China e da Índia. Segundo Perry, a exportação total dos latino-americanos teria sido 10% menor, nos últimos 15 anos, se China e Índia tivessem crescido na média mundial, em vez de avançar muito mais velozmente.

Mas os latino-americanos, acrescentou o economista, têm aproveitado o crescimento indiano e chinês menos do que poderiam. Não precisam exportar só produtos básicos. Indústrias baseadas em recursos naturais têm vantagem competitiva e deveriam explorá-la para abastecer os crescentes mercados da China e da Índia.

Com o crescimento das economias da Ásia, insumos industriais mais baratos ficaram disponíveis para as empresas latino-americanas. Ao mesmo tempo, a demanda em alta naqueles países contribui para elevar os preços dos produtos agrícolas, do aço e de outras commodities.

A concorrência dos dois países têm deslocado indústrias latino-americanas, como de têxteis e de produtos elétricos e eletrônicos, por exemplo, mas, no conjunto, o resultado é positivo, segundo o economista.

Para aproveitar plenamente as oportunidades comerciais, disseram Perry e Cox, os latino-americanos terão de investir mais na formação de trabalhadores e na infra-estrutura, agora as prioridades do Bird.

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