Título: Alckmin diz que governo Lula tem 'uma lista telefônica' de corrupção
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2006, Nacional, p. A4

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, acirrou ainda mais ontem o ataque ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e centrou fogo nas denúncias de irregularidades em seu governo. O tucano afirmou que, em quantidade, a corrupção no governo Lula "é uma lista telefônica". Ele avaliou que, informado sobre isso, o eleitorado vai rejeitar sua reeleição.

"Acredito na democracia", disse Alckmin, ao participar de entrevista no jornal O Globo, no Rio. "Como vai reeleger um governo que sob o ponto de vista ético foi um descalabro, uma lista telefônica de corrupção? Como é que vai eleger um governo com 34 ministérios, dinheiro jogado fora para todo lado, o País não cresce, parado, andando de lado, e o mundo a 100 por hora? Não é assim. Vai ter segundo turno, e no segundo turno a eleição vai ser duríssima. E acho que ganhamos as eleições." Ele citou, então, o falecido governador Mario Covas, de quem foi vice. "Mário Covas dizia: o povo não erra, precisa ter todas as informações. Nós levamos as informações, é nossa tarefa, levar as informações."

Um dia após os duros ataques do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contra Lula, o tucano atribuiu ao baixo crescimento econômico do governo FHC a derrota na eleição de 2002 do então candidato tucano à Presidência, José Serra. Em um gesto que o diferencia do ex-presidente, Alckmin disse que o povo na ocasião votou em Lula porque queria o crescimento da economia que não ocorrera devido ao apagão e a problemas internacionais.

ENGODO

Alckmin reafirmou que "não tem preocupação" de atacar o presidente, mas aproveitou todas as oportunidades para a ofensiva. Ele acusou o adversário de ter sido omisso na área de segurança pública e chamou de "Lei do Lula" a nova legislação que impõe o limite de um ano para um preso ficar no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), forma mais dura de encarceramento. Também atribuiu ao presidente o crescimento da carga tributária e afirmou que o programa lançado anteontem pelo presidente "é um engodo", acusando-o de, na verdade, provocar novo aumento da proporção dos impostos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

"Diz que não vai cortar gasto nenhum", afirmou Alckmin. "Então, vai aumentar a carga. E o Brasil não vai crescer, óbvio. Qual é a receita dele? Aumentar gastos, aumentar impostos e cortar investimento." E acusou Lula de aparelhar o Estado "com uma visão patrimonialista, que primeiro leva à ineficiência, depois à corrupção", e afirmou que o presidente faz uma "utilização despudorada" da máquina pública na campanha eleitoral. Segundo ele, Lula promove eventos oficiais em estatais, nos quais se porta como candidato. "Ele não está fazendo economia para o PT, está roubando o governo."

ERRO

A oposição comemorou a "subida de tom" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra os tucanos, com as críticas aos antecessores embutidas em seu programa de governo divulgado anteontem. O que mais animou seus adversários foi o ingresso no debate sobre corrupção e a defesa de companheiros - "ninguém deixará de ser meu amigo porque cometeu um erro", disse Lula.

"Ele (o presidente) mordeu a isca", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "É incrível que ele confirme que fará um governo de ladrões se vencer a eleição". O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também gostou: "Finalmente o Lula fala daquilo que realmente entende: corrupção."

O senador Jefferson Péres (PDT-AM) concorda que ver o presidente debatendo corrupção era tudo o que a oposição queria. "Lula deu o mote para a oposição sair do estilo light e bater nele para valer. E isso é a única coisa que nos resta fazer agora."