Título: Às vésperas do fim, CPI dos Bingos encalha por falta de informações
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Nacional, p. A4

A três dias de apresentar seu relatório final, a CPI dos Bingos ainda não recebeu informações completas sobre cerca de 75% das operações que constam no sigilo bancário dos investigados. Os ¿buracos¿ nos dados enviados pelos bancos escondem, na maioria dos casos, a origem e o destino das movimentações sob investigação - falha que impossibilita a análise das contas.

É o mesmo problema enfrentado pela extinta CPI dos Correios, que brigou com os bancos para poder receber corretamente as informações requisitadas. ¿Os bancos não estão colaborando e sem esses dados vai ficar difícil avançar em pontos importantes das investigações¿, alerta um dos peritos designados para a CPI. ¿Isso vai se refletir no número de indiciamentos¿, complementa.

A falta de dados para rastrear operações bancárias suspeitas é um dos maiores desafios dos técnicos, que devem entregar o relatório na quinta-feira. O documento vai esmiuçar as ligações das casas de bingo com o crime organizado e as práticas de lavagem de dinheiro. Os peritos também produziram capítulos sobre as conexões dos bingos com esquemas de corrupção nas prefeituras de Santo André e de Ribeirão Preto.

O relatório vai citar ainda a suposta doação de R$ 1 milhão dos empresários do setor para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Outro ponto destrinchado pelos técnicos é a renovação do contrato de loterias da Caixa Econômica Federal com a Gtech. Há evidências de pagamento de propina.

Outro motivo de reclamação dos peritos são os atrasos no envio do sigilo telefônico dos investigados. Duas grandes operadoras, segundo os peritos, ainda não remeteram os dados de quebras de sigilo aprovadas pela comissão nos dias 13 e 14 de dezembro do ano passado - um atraso, portanto, de quase seis meses.

Há extratos telefônicos fundamentais nessa lista. Entre eles, as chamadas discadas e recebidas pelo ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz nos ramais do Palácio do Planalto, os telefonemas da casa mantida pela república de Ribeirão Preto em Brasília e os extratos do telefone utilizado por Juscelino Dourado quando ele era chefe de gabinete do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Também não chegaram à CPI dados telefônicos de Ralf Barquete e Vladimir Poleto, ex-assessores de Palocci, de investigados por corrupção na prefeitura de Santo André e de empresários de bingo angolanos. A CPI havia concedido 10 dias úteis para as operadoras. ¿Eles continuam dizendo que estão `processando¿ as informações, mas a demora não se justifica¿, critica um técnico da CPI.

Segundo os peritos, a Caixa também não enviou documentos determinados pela comissão sobre bilhetes ganhadores de loterias. Uma das linhas de investigação da CPI envolve suspeita de fraudes na emissão desses bilhetes. Os técnicos afirmam que o banco remeteu só os dados dos bilhetes, e não cópias deles.

As investigações sobre o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, também foram seriamente prejudicadas pela falta de documentos disponíveis. A começar pelo próprio Okamotto, que prometeu entregar um ofício explicando qual a origem do dinheiro que ele utilizou para quitar uma suposta dívida de R$ 29 mil de Lula com o PT. A CPI aguarda o documento há meses. A quebra do sigilo de Okamotto, que poderia desvendar o mistério, foi aprovada pela comissão, mas barrada pelo Supremo Tribunal Federal.

Outra papelada fundamental da investigação sobre Okamotto também não chegou à comissão, segundo os peritos. Trata-se do detalhamento de um relatório do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) sobre as movimentações do presidente do Sebrae. O Coaf enviou à CPI um documento relatando movimentação de R$ 93 mil de Okamotto em dois anos, mas a papelada estava repleta de tarjas pretas sobre os dados das operações.

O único banco de dados completo da comissão é o do sigilo fiscal dos investigados, enviado pela Receita Federal. ¿Estão todos redondos, e com base neles vamos propor uma série de indiciamentos¿, conta um dos assessores da CPI. ¿Se tivéssemos recebido normalmente os demais dados, certamente o resultado final seria mais sólido.¿