Título: 'Acabou o Lulinha paz e amor', diz o presidente
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Nacional, p. A5

Com PT em crise e sem generais, presidente nomeia Berzoini para comandar sua campanha contra Alckmin

Quinze quilos mais magro, semblante preocupado e cabelos visivelmente mais brancos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 2006 é um candidato que se prepara para um duelo de vida ou morte com Geraldo Alckmin, do PSDB. Com a tropa dizimada pela crise e sem generais na operação política, Lula não tem muita alternativa: deve escalar o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), para coordenar sua campanha à reeleição.

"Acabou o Lulinha paz e amor", decretou ele, numa referência ao bordão criado por Duda Mendonça, que embalou a maratona de 2002. Irritado com a ofensiva da oposição, que não pára de bater nos seus, Lula deu um aviso à equipe: em conversas reservadas com ministros, na sexta-feira, pediu que todos defendam o governo. "Nessa altura do campeonato, nós não precisamos marcar gols. O que não podemos é tomar gol", recomendou.

A primeira tarefa repassada a Berzoini, no início da semana, foi correr atrás do prejuízo: o apoio do PMDB nos Estados. Até agora, o cenário é de dificuldade nas frentes da batalha petista. Das finanças arruinadas do PT à apatia de algumas siglas, desinteressadas no casamento com o partido do governo, problema é o que não falta para Lula.

Na tentativa de anabolizar o comitê da reeleição com um time de conselheiros, o presidente garantiu ao exército palaciano que convidará a fatia governista do PMDB para integrar o comando de sua campanha, caso a legenda não lance mesmo candidato ao Planalto.

"Essa é uma possibilidade real, mas, no momento, estamos mais preocupados com as alianças nos Estados", confessou o senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Pragmático, Suassuna foi taxativo: "Há problemas sérios entre o PT e o PMDB que precisam ser resolvidos. Então, temos de decidir logo o que vamos fazer para fechar as coligações. Do jeito que está não dá para ficar."

Os homens do presidente sustentam que Lula deverá intervir pelo menos no PT de Santa Catarina e do Paraná. A intenção é obrigar os candidatos petistas José Fritsch e Flávio Arns a retirarem seus nomes do páreo em apoio aos governadores do PMDB, Luiz Henrique e Roberto Requião, que vão disputar o segundo mandato. O dote peemedebista é sinônimo de palanques regionais mais robustos para Lula.

No tête-à-tête com Berzoini, o presidente ficou contrariado ao constatar que o PMDB tende a ser adversário do PT em Estados importantes, como São Paulo, Minas, Rio, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas, Paraná e no Distrito Federal. Disse que era preciso agir rápido para reverter esse quadro.

"Está todo mundo com um grau de incerteza muito grande", admitiu Berzoini. "A polêmica em torno da verticalização das alianças atrasou as conversas que deveriam ter sido feitas em fevereiro e março", completou, numa referência à regra que obriga os partidos a reproduzirem nos Estados a aliança para a disputa nacional.

O presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE), é outro que enfrenta dificuldades para alinhavar parcerias com o PT. "A ansiedade não é minha, mas que está complicado, está", constatou Campos, postulante ao governo de Pernambuco. Lá, além do aliado PSB, o PT e o PMDB também lançaram seus candidatos.

A corrida de obstáculos, no entanto, não pára aí. Depois da crise do mensalão e do caixa 2, escândalos que atingiram em cheio o PT, o dinheiro para a campanha diminuiu. Mesmo com todos os percalços, Lula sai na frente por ter a caneta na mão. Está difícil, porém, encontrar um cristão para substituir o tesoureiro Delúbio Soares. Em 2005, Delúbio foi expulso do PT, acusado de terceirizar o partido por meio do valerioduto. Pagou a conta sozinho.

Agora, Lula está à procura de um empresário para coordenar as finanças de seu comitê. Num passado não muito distante, tinha José Dirceu - então presidente do PT - na articulação política e Antonio Palocci no contato com o empresariado, arrecadando recursos.

OTAN

Chefe da "Otan", como ficou conhecido no PT o grupo que enquadrou os radicais, Dirceu entrou no governo como capitão do time, o poderoso ministro da Casa Civil, mas foi abatido pela crise e acabou cassado pela Câmara. Palocci, por sua vez, foi obrigado a deixar o Ministério da Fazenda há duas semanas, sob suspeita de mandar violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

As baixas no governo e no PT foram tantas que Lula não esconde o receio de ser ele o próximo alvo da guerra. Na retaguarda da campanha, sem os pesos pesados de outros tempos, o presidente contará em seu comitê com Luiz Dulci, hoje secretário-geral da Presidência, e Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais, que deverá ser o coordenador do programa de governo.

Por sua experiência na formulação de projetos, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, vai ajudar na costura das alianças, embora o discurso oficial separe o governo da campanha. "Minha função é a de criar um ambiente político de estabilidade para o processo eleitoral", afirmou Tarso.

Sem Duda Mendonça, publicitário que caiu com o escândalo, Lula exibirá uma propaganda com mais razão e menos emoção. Por enquanto, o marqueteiro escalado é João Santana, que faz consultoria para o Planalto. "Essa campanha será proibida para menores de 21 anos", resumiu o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. No duelo final, com alto teor de confronto, está em jogo a sobrevivência política do PT.