Título: Banco Popular tenta fugir do calote
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Subsidiária do BB, que acumulou prejuízo de R$ 82 milhões em 2005, muda critérios de concessão de crédito

Criado na segunda metade de 2004 para permitir que pessoas de baixa renda tivessem acesso a contas bancárias e a crédito, o Banco Popular do Brasil se transformou em uma fonte de prejuízos para o governo. A instituição, subsidiária do Banco do Brasil (BB), acumulou um resultado negativo da ordem de R$ 82 milhões até o final do ano passado. Para estancar a sangria, o banco vai mudar sua forma de operar a partir de abril.

"Não teremos mais a concessão de crédito automática para os clientes", disse ao Estado o presidente do Banco Popular, Robison Rocha. Até agora, qualquer cliente podia ter acesso a um crédito de R$ 600 depois de 20 dias da abertura de uma "conta popular". O resultado foi que o índice de inadimplência do banco chegou a 20% da carteira de crédito, considerado altíssimo pelos padrões do mercado financeiro.

A idéia, de acordo com Rocha, é que a concessão do crédito ocorra somente após uma análise mais cuidadosa das movimentações feitas nas contas dos clientes - como faz qualquer instituição financeira. "Queremos saber quem tem potencial de poder vir a ser, no futuro, cliente do próprio Banco do Brasil", explicou.

A expectativa é de que o Banco Popular consiga repetir o exemplo de sucesso da conta universitária, operada pelo BB. "Muitos dos estudantes que usaram esta conta na universidade continuaram sendo clientes do BB depois de formados", disse.

A decisão de restringir o crédito popular, explica Rocha, também ajudará a reduzir o nível de inadimplência. "Queremos trazer o porcentual para algo abaixo dos 10%", disse ele. Rocha admitiu que a sistemática de concessão de crédito do Banco Popular, ainda em vigor, permite que o cliente tome o empréstimo e, depois, simplesmente não apareça mais no banco. "É difícil ter controle sobre um cliente que muitas vezes não tem sequer endereço fixo."

Para amenizar o problema, o Banco Popular quer também atuar com mais ênfase no chamado microcrédito produtivo orientado. Nesta modalidade de crédito, o banco atua em conjunto com as organizações da sociedade civil de interesse público (Oscip) na concessão do empréstimo a pequenos empreendedores - donos de oficina e lojas, por exemplo. São entidades que já possuem experiência na área do microcrédito.

"Estas entidades têm mais conhecimentos dos possíveis clientes e conseguem, com isso, mais condições de garantir o pagamento do empréstimo", disse o presidente do Banco Popular. Outra vantagem, de acordo com o dirigente, é que o limite de crédito nestas operações (R$ 3 mil) é maior que nas operações individuais (R$ 600,00).

Combater o atraso no pagamento dos empréstimos faz parte de uma estratégia maior do banco de reduzir o peso de suas despesas e conseguir sair do vermelho ainda neste ano. "Pela nossa programação inicial, só atingiríamos o ponto de equilíbrio em 2007. Mas queremos nos antecipar e alcançar este objetivo já neste ano", disse ele.

Com pouco mais de um ano de existência, o BPB já está no seu terceiro presidente. Rocha é o primeiro com perfil profissional. Os dois presidentes anteriores - Ivan Guimarães e Geraldo Magela - chegaram ao cargo por suas ligações com o PT.

Guimarães era ligado ao ex-diretor de marketing do BB, Henrique Pizolatto, investigado pela CPI dos Correios pelo suposto desvio de recursos do BB, através da Visanet, para o esquema do publicitário Marcos Valério. Ele deixou o cargo depois da revelação de que o BB havia patrocinado um show da dupla Zezé de Camargo e Luciano, em um evento para arrecadar fundos para o PT.

Magela foi candidato do PT ao governo do Distrito Federal, em 2002 , mas não se elegeu. Ficou na presidência do banco de abril a setembro de 2005. "Ocorreram problemas de gestão que estão sendo corrigidos", disse uma fonte da área econômica do governo.

As mudanças foram bem recebidas pelo coordenador do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado do Ministério do Trabalho, Almir da Costa. "Parece-me que as medidas fazem parte de um contexto onde o banco procura melhorar a qualidade de sua atuação no microcrédito", disse. Para ele, o fim do crédito automático não deverá trazer grandes prejuízos para as populações de mais baixa renda. "O saldo médio exigido não será muito grande."