Título: Poupança volta a ser bom negócio
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Com a queda da Selic, rendimento da caderneta deve se manter

A quase quarentona caderneta de poupança, criada em outubro de 1968, deve voltar a ser um bom negócio com a tendência de queda da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 16,5% ao ano. Quanto menor a Selic, menor o rendimento dos títulos de renda fixa e dos fundos de investimento. Em contrapartida, o rendimento da poupança deve se manter na faixa de 8% ao ano, mesmo que a taxa básica de juros caia para 10% ao ano.

"Com a queda da Selic, o rendimento da poupança não terá recuo significativo e caderneta ficará mais competitiva", afirma o matemático José Dutra Vieira Sobrinho. Nos últimos anos, a poupança tem perdido feio para os fundos de investimentos que têm rendido 50% mais do que a caderneta.

Para chegar a essa conclusão, Dutra fez uma simulação do rendimento da poupança com base na resolução 2809 do Banco Central (BC), que definiu os parâmetros para o cálculo da Taxa Referencial (TR) em de 21 de dezembro de 2000. A TR é a taxa que baliza o rendimento da caderneta de poupança, acrescido de juros de 0,5% ao mês ou o equivalente ao ano de 6,17%.

Segundo o matemático, o Conselho Monetário Nacional (CMN) por meio dessa resolução arbitrou o rendimento da poupança levando em conta o tamanho da taxa Selic. O CMN usou uma fórmula matemática que estabelece que para uma Selic maior que 16% ao ano, a TR corresponde a 52% da taxa média de juros do mercado.

A medida que a taxa básica de juros vai caindo, essa proporção aumenta e o rendimento da poupança praticamente se mantém. Dutra observa que considerou a hipótese de que a taxa Selic equivale ao rendimento médio mensal das aplicações em Certificado de Depósito Bancário (CDB), representado pela Taxa Básica Financeira (TBF)

Com isso, quando a Selic cair para 10% ao ano, o rendimento da poupança será de 80% da taxa média de juros de mercado (TBF), nos cálculos do matemático. Caso a taxa Selic recue até dezembro deste ano para 14,5%, como prevê a maioria dos analistas do mercado financeiro segundo o Relatório Focus do BC, o rendimento da poupança será de 64% dos juros médios de mercado e deverá ficar em 8,44% em 2006, na média.

Caso ao final de 2007 a Selic caia para 12% ao ano, a simulação mostra que o rendimento médio deverá ficar em torno de 8,42%. E se e m 2008 os juros básicos recuarem para 10%, a média do rendimento da poupança poderá ser de 8,03%.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Crédito, Investimento e Poupança (Abecip), Décio Tenerello, confirma a análise de Dutra e diz que a poupança deve ficar mais atraente com a queda da Selic. "A poupança sobrevive a todas as situações."

Entre os fatores que fazem a caderneta resistir a todos os golpes, até mesmo ao confisco do Plano Collor em 1990, Tenerello aponta o fato de ser uma aplicação com regras simples, que permite ao poupador movimentá-la como se fosse uma conta corrente. Além disso, o Fundo Garantidor de Crédito assegura aplicações de até R$ 20 mil. A poupança também é isenta de Imposto de Renda.

FIDELIDADE

A fidelidade dos brasileiros à poupança fica estampada nos números. Dados do BC mostram que o saldo total da caderneta de poupança encerrou o ano passado em R$ 168,7 bilhões. Em dezembro, eram 51,8 milhões de poupadores.

Um deles é a aposentada Alda Borges Costa, de 75 anos, que há cerca de 20 tem poupança. Ela conta que antes de ficar viúva abriu uma caderneta em conjunto com o marido para ajudar na educação dos filhos. Agora, ela poupa para alguma eventualidade e para viajar. "Gosto muito de viajar. No Carnaval fui para Bertioga (SP) e levei para gastar o dinheiro que tinha na poupança." Em maio, Alda vai fazer uma excursão para Foz do Iguaçu e pretende levar parte das economias da poupança.

Com renda mensal de R$ 1,5 mil, entre aposentadoria e pensão do marido, e com casa própria, Alda diz que não acompanha os rendimentos da conta de poupança que tem do Banco do Brasil. "Eu me acomodei, nunca sei quanto rende, mas caderneta é garantida pelo governo."

Há 15 dias a aposentada, aconselhada pelo filho, abriu outra caderneta no BB. "Meu filho disse para eu abrir a poupança Mil porque rende um pouco mais do que a tradicional." Apesar da recomendação, ela não sabe exatamente qual será o benefício adicional. O importante, diz, é não deixar o dinheiro em casa para não gastar.