Título: Banco do Brasil perdeu R$ 30, 9 milhões com doleiro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Nacional, p. A10

Segundo reportagem da revista "Época", BB fez 11 operações com Funaro, suposto dono da Guaranhuns

BRASÍLIA

Reportagem da revista Época que chega hoje às bancas mostra que a CPI dos Correios encontrou fortes indícios de operações fraudulentas no Banco do Brasil durante o governo Lula. Segundo a revista, relatório sigiloso em poder da comissão descreve como o banco perdeu, em transações na Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F), R$ 30,9 milhões para o doleiro paulista Lúcio Bolonha Funaro. O doleiro é apontado pela CPI como o verdadeiro dono da Guaranhuns, empresa de fachada ligada ao PL, segundo a CPI. De acordo com depoimentos, a a empresa foi intermediária na transferência de R$ 6,5 milhões pagos pelo PT ao ex-deputado Valdemar da Costa Neto, presidente do PL.

Segundo o relatório, o Banco do Brasil e Funaro fizeram 11 operações com um produto financeiro chamado swap, entre janeiro e novembro de 2003. O saldo das transações, teria sido um fracasso. O swap é uma aplicação feita no mercado financeiro por meio da qual um investidor busca proteger seu patrimônio de algum risco. No caso dos dólares, o swap funciona como uma aposta em que o investidor combina com a corretora um valor para a moeda e, ao fim do prazo estabelecido, paga ou recebe a diferença verificada no câmbio.

A revista lembra que o Banco do Brasil faz operações assim todo dia, porque movimenta R$ 5 bilhões por mês em sua mesa de câmbio e não pode ficar exposto a oscilações bruscas no preço do dólar. No caso da operação suspeita de Funaro, seria como se o BB tivesse vendido para ele aceitando receber juros inferiores aos de mercado. Os técnicos da CPI, segundo Época, afirmam que Funaro e o Banco do Brasil não faziam seus negócios às claras. O doleiro operava por meio da corretora São Paulo. Conforme a revista, o documento sustenta que o BB fazia com Funaro transações nas quais recebia menos do que poderia. Pouco depois, o doleiro obtinha no mercado cotações melhores.

Por sua assessoria, o BB informou à reportagem que só enxergava a corretora São Paulo nas transações e não sabia que Funaro estava do outro lado do balcão. Disse ainda que operava muito com a São Paulo e, no geral, tinha lucro. A reportagem indaga, no entanto, por que o BB só se dava mal justamente naquelas operações em que, de acordo com o relatório da CPI, Funaro estava envolvido.

Em maio passado, a São Paulo foi denunciada por suspeita de ter manipulado o mercado em operações com dólar. Na CPI dos Correios, é investigada por aparecer em negócios aparentemente irregulares com fundos de pensão. Em abril de 2004, cinco meses depois da última vez em que fez negócios com o BB, foi descredenciada do quadro de corretoras com as quais a instituição se relaciona.