Título: Lula não aceitará boicote dos EUA à Embraer
Autor: Denise Chrispim Marin, Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2006, Economia & Negócios, p. B8,9

Presidente até propôs integração bélica com Argentina e Venezuela, disse Néstor Kirchner

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará convencer o colega dos Estados Unidos, George W. Bush, a suspender o boicote à venda de 24 aviões Supertucanos da Embraer para as Forças Armadas da Venezuela, um negócio de US$ 230 milhões. Anteontem, no encontro reservado com o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, Lula disse que não aceitaria esse tipo de intromissão de Washington. O relato foi feito por Kirchner em entrevista à imprensa de seu país, ontem, afirmando que apoiará o Brasil e a Venezuela.

No fim da tarde, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que ainda espera uma resposta da secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, com quem tratou desse assunto na última sexta-feira.

Mas desconversou sobre a possível iniciativa de Lula de telefonar a Bush. ¿Se não houver um sinal positivo (de Rice), há outras instâncias que podemos utilizar. Dado o bom momento das relações com os EUA, achamos que se justifica uma revisão do que nos foi indicado inicialmente (a obstrução do negócio).¿

Amorim insistiu que a restrição dos EUA à operação de venda dos aviões ¿não se justifica¿, pois a Venezuela não está sob sanção internacional nem é acusada de patrocinar o terrorismo ou ações subversivas.

Os aviões da Embraer não são ¿agressivos¿ e podem ser usados no combate ao narcotráfico ou no treinamento de pilotos. Amorim lembrou que não houve problemas nas operações de venda de jatos da Embraer para companhias americanas.

Ontem, no encontro com os presidentes Kirchner e Hugo Chávez, da Venezuela, Lula apresentou uma proposta que pode acentuar a resistência americana à venda dos Supertucanos à Venezuela: a integração das indústrias bélicas dos três países, para potencializar a competitividade do setor e garantir o suprimento da região.

Para Chávez, a medida permitiria à América do Sul consolidar uma estratégia de defesa.

O tema transformou-se em um problema exclusivo do Brasil nas declarações de Chávez. Após a reunião na Granja do Torto, o venezuelano deixou claro que caberá a Lula convencer Washington a mudar de posição sobre o tema. Caso contrário, comprará os aviões na ¿Rússia, na China, Índia, em qualquer lugar¿.

Mas o assunto rendeu munição para seu permanente tiroteio com os EUA. ¿Este é um exemplo do absurdo da política internacional dos Estados Unidos em relação ao Brasil.

Porque atropela a liberdade econômica do País.¿