Título: Acordo vago adia queda do álcool
Autor: Mariana Barbosa, Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Especialistas questionam a medida e dizem que preço do combustível já estava em baixa antes da limitação

Governo e usineiros passaram o dia de ontem tentando justificar o acordo firmado para impedir novas altas do álcool ¿ que estabelecia um teto de R$ 1,05 para o litro do produto. Na outra ponta, distribuidores e revendedores reforçaram as críticas. Para eles, o acordo é confuso e desnecessário, uma vez que os preços já estavam começando a cair, como mostra levantamento divulgado ontem.

O entendimento dos distribuidores e dos donos de postos é de que o acordo teria fixado um teto único de R$ 1,05 para o álcool anidro (adicionado à gasolina e que custava R$ 1,09 antes do acordo) e para o hidratado (usado nos carros a álcool e flex e comprado a R$ 1,03 no início da semana).

No anúncio do acordo, na quarta-feira, a questão não foi explicitada. Ontem, porém, governo e usineiros disseram que o limite de R$ 1,05 referia-se apenas ao anidro.

¿Obviamente que o acordo com o anidro será estendido para o hidratado. Imaginamos que seja adotada uma diferença de preço entre R$ 0,05 e R$ 0,10¿, afirmou o diretor do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Ângelo Bressan.

¿Supõe-se que o bom senso do setor vá fazer com que ele mantenha o preço nesse nível, mas só saberemos os impactos na semana que vem¿, disse, referindo-se à pesquisa de preços da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo.

¿Hoje, o preço razoável do litro do álcool hidratado, que tem um porcentual de 6% a 8% de água, deve oscilar entre R$ 0,95 e R$ 1,00.¿ O presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo de Carvalho, garante que o acordo foi feito com base no preço do anidro.

¿O limite sempre foi referente ao álcool anidro carburante, livre de impostos na usina¿, diz ele, que enviou carta ao governo ontem esclarecendo a questão.

Para os distribuidores, porém, houve mudança de posição por parte das usinas. ¿Eu conversei na quinta-feira com o Pádua (Antonio, diretor técnico) da Unica, que me disse que o acordo valia para os dois tipos de álcool¿, afirma o diretor do Sindicato dos Distribuidores, Dietmar Scoupp.

Um alto executivo de uma das maiores distribuidoras do País garante ainda que, ontem pela manhã, o álcool hidratado havia subido e estava sendo cotado pelas usinas em São Paulo a R$ 1,05 ¿ uma alta de R$ 0,02 considerando preços anteriores ao acordo. ¿Diante do preço, decidimos não comprar e esperar¿, diz o executivo.

¿Agora, com a má repercussão, os usineiros estão mudando de posição e é possível que na semana que vem o preço caia.¿ O diretor do Ministério da Agricultura afirma desconhecer que tenha havido um movimento de alta no hidratado.

¿O fato de um produtor ou outro ter vendido a esse preço, não significa que o setor esteja infringindo alguma regra.¿ Além da discussão se o teto vale para os dois tipos de álcool, distribuidores afirmam que falta definir a duração do acordo e também a região de abrangência. ¿No Nordeste, é época de safra e os preços estão menores. Será que o acordo vale para lá?¿, questiona o executivo da distribuidora.

Diante da polêmica, o governo decidiu convocar distribuidores e revendedores para discutir as margens de lucro na venda do produto.

A reunião será coordenada pelo Ministério de Minas e Energia, com a participação da Agricultura. ¿Vamos pedir a contribuição de todo mundo para que o consumidor seja abastecido com preço razoável na entressafra¿, afirmou Bressan.

A expectativa do governo é de que a Petrobrás colabore para que as margens sejam as menores possíveis, uma vez que ela detém parte significativa do mercado varejista de combustíveis.