Título: `Acabou o tempo da colonização deste país¿
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Nacional, p. A4

Ao comemorar fim do acordo do Brasil com o FMI, presidente ainda diz: `Viramos dono do nosso nariz¿

Durante a visita às obras de reforma do aeroporto de Macapá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu o fim dos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) como um março da autonomia brasileira para decidir seu destino. ¿Acabou o tempo da colonização deste País, viramos donos do nosso nariz¿, bradou ele, avisando que o Brasil ¿é uma casa de alicerces fortes¿, disse, salientando que o bom rumo do País está assegurado: ¿A estabilidade, para nós, já está garantida. Já está dada.

Agora, é crescer.¿ Lula afirmou que o seu governo conseguiu encerrar o ciclo de acordos com o FMI ¿sem barulhos e bravatas¿ ¿ uma referência, pela quinta vez em menos de duas semanas, à decisão do governo de fazer o pagamento antecipado de uma parcela de US$ 15,5 bilhões da dívida contraída com o FMI.

Referiu-se à decisão de pagar essa dívida como um ato de soberania, e não perdeu a oportunidade de dizer que se tratava de empréstimos tomados pelo governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso. ¿Sem nenhum grito e nenhuma briga, não fizemos no ano passado acordo com o FMI¿, destacou o presidente em seu discurso. ¿Temos dinheiro, exportação, produção e, agora, vamos nos auto-administrar sem precisar imposição (de fora).¿

Ao lado dele estava o senador José Sarney (PMDB-AP), que em janeiro de 1987, quando presidente da República, diante de altos déficits nas contas nacionais, decretou a moratória e suspendeu o pagamento dos serviços da dívida externa.

OUTROS TEMPOS

O presidente admitiu que, antes de assumir o governo, passou 20 anos bradando, como líder sindical e importante figura do PT e das esquerdas, o lema ¿fora FMI¿. Mas Lula acrescentou que no ano passado tomou a decisão de não prorrogar o acordo que o governo brasileiro tinha com o Fundo, um passo que, explicou, levou naturalmente à decisão da semana passada, que foi ¿um gesto de quem conquista sua independência¿.

Talvez incentivado pela avaliação, dentro do governo e do PT, de que a decisão de livrar-se das dívidas com o Fundo não foi devidamente explorada diante da opinião pública, ele insistiu no tema. Lula discorreu, por exemplo, sobre o significado desse ato de independência: ¿Apenas quisemos dizer ao mundo:`olha, o Brasil atingiu a sua maioridade na sua política internacional e temos tranqüilidade para seguir em frente e crescer muito mais¿.¿

MAIORES RESERVAS

O presidente fez críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso, mas evitou lembrar o governo de inflação alta e planos econômicos fracassados do agora aliado Sarney. ¿Quando pegamos o governo, não tinha praticamente reserva para garantir as nossas importações e hoje nós temos uma reserva de US$ 60 bilhões¿, enfatizou.

Também disse que, em 2002, a gestão Fernando Henrique repassou R$ 53 milhões para a área de saúde na região amazônica. Já o governo petista, segundo ele, destinou neste ano R$ 543 milhões.

Lula também aproveitou os discursos para comentar, diante das várias platéias nos eventos dos quais participou, que o Congresso rejeita os projetos favoráveis às Regiões Norte e Nordeste ¿por pressão¿ dos Estados industrializados do Centro-Sul do País. Ao final, prometeu que a economia voltará a crescer fortemente em 2006.