Título: Ao lado de Alencar, general ataca governo
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Nacional, p. A9

O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, reclamou ontem que militares não estão conseguindo fazer as três refeições por dia. Em depoimento na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, ele disse que 52% dos canhões da força são da Segunda Guerra, os fuzis têm 40 anos, os blindados Urutus foram comprados em 1971 e as fardas das tropas estão incompletas. "O homem tem direito de tomar café, almoçar e jantar, mas isso não está acontecendo", disse Albuquerque, ao comentar as poucas verbas para alimentação dos militares. Albuquerque fez essa declaração para sensibilizar os poucos senadores presentes a ajudar no aumento de recursos no Orçamento da União para as Forças Armadas. A garantia de três refeições diárias a qualquer cidadão é um dos bordões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na posse, em janeiro de 2003, Lula disse que estaria satisfeito se, ao fim do mandato, todos os brasileiros pudessem fazer três refeições por dia.

Os comandantes da Marinha, Roberto Carvalho, e da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno, também reclamaram das dificuldades orçamentárias. Bueno ponderou que o problema do contingenciamento "não é novidade do ministro Antonio Palocci, isso vem de longa data". "É o buraco negro, o próprio ministro está acostumado a falar disso", afirmou Bueno. Já Carvalho considerou "surreal" a falta de munições e relatou que os projetos do reator nuclear e do enriquecimento de urânio da Marinha estão "estagnados" e em "estado vegetativo".

RISCO

Os três comandantes afirmaram que, se não houver aumento de recursos, as Forças Armadas podem não conseguir se recuperar no futuro. Albuquerque relatou que o Exército só conta com 43 dos 227 itens de uma farda. "O uniforme para ir à rua não é mais distribuído", contou. Segundo ele, a idade média dos veículos do Exército é de 20 anos. "Quem dos senhores tem um carro particular com 20 anos e faz uma viagem com a certeza de que chegará?"

Durante a reunião, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, defendeu proposta de emenda constitucional, em tramitação no Congresso que garante 2,5% do PIB para as Forças Armadas. Hoje elas gastam 1,5% do PIB.

A reunião contou com poucos senadores. No início, apenas seis estavam presentes. Os três primeiros usaram o microfone para pedir desculpas por terem de se retirar. Saturnino Braga (PT-RJ), presidente da comissão, sugeriu o adiamento da reunião ou que se discutisse o problema em outra data. Albuquerque reagiu: "Algumas abordagens devem ser restritas. Estamos tratando de segurança nacional." A reunião, então, foi mantida e durou cinco horas.