Título: Arroz agora vem com cor, cheiro e sabor
Autor: Paulo Baraldi
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Economia & Negócios, p. B10

O arroz, ingrediente básico da alimentação dos brasileiros, sempre teve as mesmas características no País: branco, sem sabor e cheiro. O produto conseguia um diferencial apenas quando agregado um condimento. Mas uma transferência de genes pode mudar esse cenário. A Embrapa Arroz e Feijão, com a parceria de pequenos agricultores, está cultivando o cereal com cheiro e sabor. A indústria também criou alternativas. Enquanto a Embrapa passou 12 anos estudando a alteração, a tecnologia se encarregou do aroma e do sabor. A empresa gaúcha Santalucia coloca no mercado a linha Arroz e Companhia com a estampa Blue Ville. São quatro opções: pimenta, alho, ervas finas e cebola dourada.

Segundo a gerente de Novos Produtos da empresa, Rosane Dalbem, o novo arroz começou a ser comercializado em outubro de 2004. No primeiro mês, a produção foi de uma tonelada. Atualmente, são cinco toneladas e a expectativa é produzir 25% mais a cada mês. "É uma linha voltada principalmente para as donas-de-casa, que cada vez mais buscam variação de cardápio", explica Rosane. O tempo de preparo é idêntico ao do arroz comum.

A empresa está patenteando a inovação, feita com tecnologia brasileira. "O grão passa por uma nova etapa, que incorpora cor e sabor", diz. A empresa investiu R$ 800 mil no desenvolvimento do produto.

Já a Embrapa chegou à variedade do arroz com cheiro e sabor por acaso. Os pesquisadores queriam aproveitar o gene de uma variedade produzida na Índia para controlar uma doença que ataca os plantios no Brasil. Acabaram por transferir os genes que deixam o arroz com cheiro e sabor.

Segundo o pesquisador do órgão, Emílio da Maia de Castro, a plantação do arroz aromático é comum na Índia, China e Paquistão, mas não se adaptava ao Brasil. "A característica genética já é comum do arroz, mas em quantidade pequena e pouco perceptível. Essa substância existe em quantidade maior em algumas variedades, determinadas por genes."

Os pesquisadores, então, transferiram os genes do arroz indiano para uma variedade brasileira. Por enquanto, a linhagem ainda tem de ser plantada em terras altas, o que não é possível no sul do País, onde o solo é irrigado. Há pequenas plantações em Goiás, no entanto, apenas para que agricultores conheçam o produto. O arroz pode ser comprado em mercados especializados, que importam o cereal. A produção própria deve melhorar o preço, acredita Castro.

De acordo com o analista de mercado da Conab, Paulo Morceli, a alternativa é interessante, mas não deve aumentar o consumo de arroz no Brasil, que está estabilizado. "É um produto para um nicho específico, não vai elevar o consumo. Mas será uma boa opção."