Título: Acordo da UE com a China vai pressionar o Brasil
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2005, Economia, p. B5

O acordo fechado entre a União Européia (UE) e a China sobre a importação de têxteis cria uma pressão extra sobre o Brasil para que não recorra a medidas protecionistas contra esses artigos. Isso, apesar das queixas de industriais brasileiros, que pedem algum tipo de medida para barrar a invasão desses produtos. Sexta-feira, Bruxelas evitou uma guerra comercial ao fechar um entendimento com Pequim que auto-regula o aumento de suas exportações ao mercado europeu.

Em Genebra, especialistas e advogados dizem que, com o acordo entre europeus e chineses, o Brasil dificilmente conseguiria justificar perante a opinião publica internacional a imposição de salvaguardas contra outro país em desenvolvimento. Na avaliação de diplomatas, a imagem do Brasil como um dos lideres entre os emergentes poderia sofrer um impacto negativo. "Todos se questionariam como é que Brasil e China, dois países em desenvolvimento e aliados em muitas questões, não conseguiram entrar em acordo enquanto os chineses e europeus, em muitas ocasiões em lados distintos nas disputas comerciais, conseguem", comentou um experiente diplomata na OMC.

O próprio governo chinês já deixou claro na OMC que consideraria a imposição de salvaguardas pelo Brasil uma traição por parte de outro país emergente que sofre barreiras similares para seus produtos nos Estados Unidos e Europa.

O acordo, que prevalecerá até o final de 2007, cobre 10 das 35 categorias de produtos que desde 1.º de janeiro entram na UE livres de cotas, e que incluem artigos de jersey, calças masculinas, blusas, camisetas e roupas de cama e mesa. Serão impostos limites para a expansão dessas importações, que variam de 8% a 12,5% dos volumes comprados, conforme a categoria. O documento ainda precisa ser referendado pela UE e pelos chineses.