Título: Acordo prevê devolução de terras griladas para a União
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Nacional, p. A10

Um acordo está sendo fechado entre madeireiros e fazendeiros da região sudoeste do Pará, a Casa Civil da Presidência da República, Incra e Ibama para que áreas ocupadas por empresas e colonos sejam devolvidas à União em troca da liberação dos planos de manejo de madeira hoje suspensos. A grilagem de terras públicas na região, se o acordo vingar, poderá ganhar a chancela do governo diante da pressão dos madeireiros. No Pará, é comum existirem escrituras diferentes lavradas em cartório e com tamanho desigual sobre a mesma área, o que caracteriza grilagem, mas isso não foi levado em conta pelos arquitetos da negociação. Pelo acordo, os madeireiros e fazendeiros doariam 1 milhão de hectares, podendo alcançar 5 milhões de hectares.

O paulista Luís Carlos Tremonte, um dos diretores do sindicato dos madeireiros da região, rejeita o termo "grilagem" para as terras que seriam negociadas e que já pertencem à própria União, afirmando que estão sob a posse "pacífica" dos fazendeiros há mais de dez anos. Se o governo quisesse retomar as terras, observa Tremonte, teria de ingressar na Justiça contra os detentores das posses. "Os processos levariam anos, talvez décadas, para serem julgados."

Perguntado sobre a maneira sigilosa como o acordo está sendo costurado, inclusive com o empenho de deputados federais do PT paraense, foi taxativo: "Se for divulgado onde ficam as terras que serão doadas, haverá uma corrida de famílias para a região e ocorrerão muitos problemas".

As terras seriam usadas para a reforma agrária no Estado e também serviriam para a implantação de planos de desenvolvimento sustentado, os PDS.