Título: O homem que disse não aos ciclistas
Autor: Bárbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2005, Metrópole, p. C6

O prefeito da Cidade Universitária, Wanderley Messias, quer ampliar a participação da comunidade no campus da Universidade de São Paulo. Mas criou polêmica quando limitou aos sábados, das 5 às 14 horas, o acesso ao campus de ciclistas sem vínculo com a universidade. Afinal, a USP, por ser uma universidade pública, deve ser aberta a todos? Messias diz na entrevista abaixo que sim, mas com restrições e sem perder de vista o objetivo da instituição: a busca do saber. Por que restringir a entrada de ciclistas?

Há essa tensão entre as necessidades de a universidade ter o espaço adequado para sua finalidade - isto é, pesquisa, ensino, um clima de harmonia e silêncio para poder ler - e da demanda da comunidade externa por um espaço de lazer, de recreação, por atividades culturais que a universidade oferece. Se tivéssemos em São Paulo sete universidades como a nossa e meia dúzia de Ibirapueras e Villa-Lobos, não haveria tanta polêmica. É evidente que sou cidadão desta cidade e sei dos problemas que ela tem com área verde, com espaço. Agora, o que está acontecendo atualmente nos levou a essa medida. Cada vez mais os nossos estudantes são motorizados. É uma conseqüência do que ocorre no País e na cidade. Não temos mais espaço na Cidade Universitária hoje para estacionamento. Para ampliar vagas, deveríamos invadir áreas verdes. Fora a quantidade de ônibus que entram no campus. Aí há no meio disso 400 ciclistas em grupos de 30 a 80, treinando a 60 km/h, às 19 horas, que é nosso horário de rush. Que tal? Esse é o nosso quadro. Eu tenho uma guarda universitária com 70 homens, divididos em turnos, que têm de cuidar de segurança física e patrimonial, fiscalização de veículos, monitoramento de festas... 70 homens só. Então é difícil. O conselho do campus se reuniu três vezes e em todas fui cobrado para fiscalizar trânsito e ciclistas. Até demorei para tomar essa decisão. E não há meio de solucionar pelo diálogo. Nos reunimos com os ciclistas e a Federação Paulista de Ciclismo, por exemplo, confessou que não representa a totalidade deles.

Se uma pessoa vem de bicicleta visitar museus e bibliotecas, não pode entrar?

Se não for vinculado à USP, não. Mas é 1 em mil que faz isso - 999 vêm fantasiado de visitante do museu e usa isso para burlar a vigilância e pedalar aqui dentro de novo. No horário do expediente não dá para conciliar.

Mesmo com as propostas apresentadas pelos ciclistas?

Depende. Se forem propostas bem detalhadas e dentro daquilo que a gente entende que é razoável, podemos mudar.

Há alguma campanha para incentivar o aluno a tomar ônibus em vez de usar o carro?

Não. Não é fácil, né? Eles sempre alegam que o serviço de transporte é deficiente. E é estudante de classe média, a maioria tem carro.

Por que agora estão aparecendo propostas de abertura à comunidade?

Essa proposta para que as pessoas venham conhecer a universidade já tem um ano e meio. É difícil arrumar patrocínio. As empresas, em geral, têm interesse em patrocinar evento esportivo. Quando se fala: vamos fretar seis ônibus, enchê-los com os velhinhos pobres da periferia ou com as escolas públicas do Rio Pequeno e trazer essas pessoas para fazer ginástica orientada pelos nossos alunos de educação física, no primeiro contato os patrocinadores aceitam. Depois não voltam mais. Ninguém quer, porque pobre não consome. Quem consome é rico, classe média, que compra tênis caro, roupas de grife, bicicletas de liga leve, caríssimas. Agora, para trazer menino pobre de periferia, quem vai patrocinar? Propus ao secretário Lars Grael, que achou ótimo e disse que falaria com o pessoal. Estou aguardando propostas concretas. Seja do governo, da Prefeitura, dos ciclistas...

Mas o fechamento aos ciclistas de maneira geral não parece uma atitude elitista?

Essa verdadeira loucura, mistura de carro, bicicleta, pedestre no meio da rua, esses conflitos, não são uma coisa saudável, nem para nós nem para eles. Não é uma atitude elitista, de modo algum.